Tenho pensado muito sobre um mal que, parece-me, está assolando a população. Por mais que eu me esforce, não consigo deixar de reparar que a quantidade de gente doida só vem aumentando. Às vezes eu me questiono se isso se deve ao fato de que a população mundial, em si, vem aumentando e, daí, talvez, por consequência, a quantidade numérica de doidos é que esteja maior, mas não a proporção, em relação aos ditos normais.
Deixo claro que não estou falando daquele tipo de doido que todo mundo é um pouco ou um pouco mais. Todos somos meio estranhos, de um jeito ou de outro, mas se mantemos um dos pés nesse mundo, já damos para o gasto e já é o suficiente para não nos destacarmos da média dos demais. O que falo é dos doidinhos de verdade, dos malucos de pedra, de gente que vive em um universo paralelo, mesmo andando no meio dos outros.
Quero também esclarecer que não me refiro àqueles que tem algum problema mental que os incapacita, que os coloca como merecedores de cuidados médicos, mas de um tipo de doido que anda no meio dos outros, que trabalha, que se reproduz, que vota, que faz mil outras coisas, mas que tem alguns parafusos fora do lugar. É o tal do limítrofe, mas não no sentido médico, técnico. O limite aqui, muitas vezes, é só o fato da pessoa se achar normal e todo o restante das pessoas ter certeza de que ele não é, mas, por uma ou mil razões quaisquer, fingem que está tudo certo.
É o doido que, um dia, chega ao trabalho ou na sala de aula, sem aviso ou suspeita, e, vendo e/ou ouvindo coisas, resolve que precisa matar todo mundo. Sinceramente, ando com medo desse tipo anônimo de gente doida, cada vez mais em moda. De uns tempos para cá, tenho a impressão de que as pessoas vem descompensando por qualquer coisa. Todos os dias eu escuto frases como: “estou com problemas psicológicos e não consigo mais sair de casa, estudar, ser feliz e etc..”, ou “tomo remédios para minha profunda depressão”, “não tenho motivos para viver” e outras tantas coisas que me deixam, sobretudo triste.
Fico triste porque essas frases costumam vir de gente muito jovem, cheia de vida, bem nascida, bem criada, bonita. Gente que teria tudo para, ao menos, ser um pouco mais feliz, mais segura. Que tipo de gente estamos legando para esse mundo? Gente que não é capaz de suportar quase nada e que se dói por qualquer coisa tola, incapaz de separar o que é sério, imutável, doloroso, daquilo que pode ser contornado, superado, vivido...
Todos nós temos limites e isso é óbvio, mas tenho a sensação de que as pessoas estão literalmente “pirando na batatinha”. Por tudo e por nada. Desistir tem parecido mais simples do que tentar, do que batalhar. Mesmo que se possa perder e sempre há um risco, ainda sim a emoção da luta deveria impulsionar as pessoas e não soterra-las sob pilhas de antidepressivos e afins.
Reitero que não estou dizendo que há dores mais fortes do que a natureza humana e que, muitas vezes, é necessária a ajuda de medicamentos e de terapia. Só estou dizendo que a fragilidade das pessoas, atualmente, vem me assustando. Da mesma forma, a quantidade de gente que abandona a normalidade ou a loucura aceitável, para embarcar na loucura da alienação e do egocentrismo. Tenho medo de que, em poucas décadas, estejamos todos psicologicamente abalados demais para continuarmos sendo doidos felizes...
Talvez, ao contrário, a verdade esteja do outro lado, como no conto de Machado de Assis, O Alienista...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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