A festa de CORPUS CHRISTI, expressão latina que significa CORPO DE CRISTO, é uma das mais importantes do calendário católico e visa reverenciar a EUCARISTIA, na qual, segundo a crença, Cristo se encontra presente, sob as aparências do pão e do vinho, alma e divindade. Efetivada anualmente na quinta-feira após o domingo que sucede o Dia de Pentecostes, outra solenidade litúrgica, a sua principal cerimônia consiste numa tradicional procissão. Esse cortejo, em muitas localidades, segue por ruas enfeitadas com trabalhos artesanais, cujos temas são predominantemente religiosos e geralmente elaborados pelos próprios membros das comunidades, que, entre outros materiais, utilizam-se de pétalas de rosas e resquícios de madeira.
Por seu próprio significado e por ressaltar uma das partes centrais de todo o culto da Igreja - a instituição da COMUNHÃO, talvez o maior dos sacramentos cristãos -, a comemoração de hoje se revela de suma relevância, trazendo-nos à memória, o dia que antecedeu a morte de Jesus no Calvário, quando Ele se despediu dos apóstolos e transformou o pão em seu corpo, pedindo aos seus seguidores que continuadamente repetissem o ato, propagando assim, a lembrança da Sua presença entre os homens. Historicamente, a celebração surgiu na Bélgica para saudar o início da prática eucarística, sendo posteriormente institucionalizada pelo Papa Urbano IV em 11 de agosto de 1264. Preliminarmente deveria ocorrer na Quinta-Feira Santa, coincidindo com a última ceia, mas foi transferida para outra data, entendendo-se que a anterior seria sensivelmente prejudicada pelas liturgias em torno da cruz e da morte do Senhor, na Sexta-Feira Santa.
Para o inspirado e competente escritor Frei Beto, CORPUS CHRISTI “resgata a sacralidade do corpo e a unidade do espírito humano. A proclamação do Credo tem caráter dogmático: ‘Cremos na ressurreição da carne’. É sintomático que não se fale ‘na ressurreição da alma’. Para o Evangelho, o ser humano não admite divisões. Fomos, como todo o universo, redimidos por Cristo. E somos energia condensada em matéria. À luz da fé, imagem e semelhança de Deus, que faz em nós sua morada” ( “Folha de São Paulo”, A-3, 22.06.2000) (os grifos são nossos).
Solenizar, portanto, esta data santificada, significa abrir corações e mentes aos nossos semelhantes, principalmente os injustiçados e oprimidos. É compreender que a palavra de Deus é a que ensina, reconforta e traz esperança, revelando-se nas mais diversas formas, tais como um sorriso infantil, a emoção de uma descoberta, um instante de reflexão, os gestos solidariedade, a liberdade, a luta por igualdade, a fraternidade, o respeito ao próximo e principalmente, a partilha. A maioria das pessoas tem consciência desses atributos, mas por comodidade e apego material, adapta os ensinamentos divinos aos próprios interesses. Interpretam-nos de acordo com tudo que lhes convém, modificando a essência clara e extremamente nítida dos princípios e pregações cristãs. Cria normas de conduta específicas, justificando isoladamente o egoísmo de que é dotada, permanecendo inaudita aos verdadeiros valores. Pratica uma auto-religião, simula atos caridosos e tenta enigmaticamente esconder-se do remorso que a persegue.
É por isso que o mundo se encontra moralmente tão instável e frágil, no qual o predomínio de uma cultura consumista, obediente a ditames exclusivamente econômicos, vem sufocando a espiritualidade e esfriando a convivência humana. Não é só a crise energética, advinda da imprevidade e da falta de planejamento de nossos administradores que nos afeta diretamente. As graves alterações que estão sobrevindo e afetando o curso de nossas vidas, acarretando um estado crônico de desequilíbrio, de preconceitos, de reações violentas ou agressivas, de retrocesso das coisas, fatos e idéias, de dúvidas, incertezas, conflitos e tensão, de desesperança, de alienação e de massificação, na realidade, assentam-se num generalizado afastamento da humanidade de Deus ou até de uma aproximação, que não se concretiza pela ausência de autenticidade no cumprimento de Sua palavra.
Aproveitemos assim a data religiosa, para meditarmos sobre o grau de participação que estamos desenvolvendo na busca de um universo melhor para todos, procurando desvencilharmos da pesada carga de negligências, incompreensões, defeitos e individualismo que vêm assenhorando nossas mentes, impedindo-nos de contemplar a Verdade em razão da névoa de interesses materiais que tem cegado o entendimento quase geral das pessoas.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito Pe. Anchieta de Jundiaí
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