Duas notícias, na semana passada, pelo respeito que tenho pela vida humana, me incomodaram e muito. Uma foi sobre o Conselho Nacional de Direitos da Mulher (CNDM) estar elaborando um documento com argumentos contrários a um projeto de lei que prevê a criação do Estatuto do Nascituro. O regulamento classifica que o embrião já é um ser humano desde sua concepção, e que ele tem direitos como qualquer pessoa, mesmo que não tenha nascido. Não tenho dúvida alguma de que, a partir da fecundação, já existe um novo ser, mesmo que oculto nas entranhas maternas. Alguém surgiu sem a fecundação do óvulo? Provocar a morte de um bebezinho, que ainda não veio à luz, seja na circunstância que for, é barbárie, assim como defender e legalizar que o útero materno se transforme em filial de campos de extermínio.
Sei que muitas mulheres, em situação de desespero, por motivos diversos, tiveram um aborto provocado, com a culpa também do pai da criança - de relações irresponsáveis - e de quem as ajudou a isso. Arrependidas, buscaram o perdão de Deus. E o Senhor, que é misericórdia e compaixão, diante do pesar pela falta cometida e do propósito de não voltar a praticá-la, perdoou-as inteiramente. Abraçarão o filho na Eternidade. Mas o drama de consciência não é argumento para se defender a sentença de morte a alguém que vive no corpo da mulher, porém possui individualidade. Considero inaceitável a justificativa de que a mulher, por ser a dona de seu corpo, tenha direito a destruir o mais frágil que a habita por nove meses. De gruta de amor, a mãe se transforma em covil peçonhento.
A outra notícia foi sobre o Dia Internacional das Prostitutas, comemorado em dois de junho. O diretor do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, chegou a divulgar, nas redes sociais, uma campanha com a mensagem: “Sou feliz sendo prostituta”, com o objetivo de reduzir o estigma da prostituição associado à infecção pelo HIV. Somava-se à campanha o tema: “Sem vergonha de usar camisinha”. O Ministro Alexandre Padilha, exonerou o referido diretor e retirou as peças do site do departamento. Segundo Padilha, mensagens assim devem ser dirigidas a um grupo específico. Embora a Associação de Prostitutas de Minas Gerais protestasse contra o Ministro, é possível ser feliz, no que diz respeito às mulheres pobres em situação de prostituição, ao cair nas malhas do comércio do sexo, vitimadas pela violência sexual infanto-juvenil, pela miséria ligada à promiscuidade sexual, por ser filha de uma família desajustada, pela dependência química? É possível ser feliz numa história de consumo do corpo, convivendo com taras e relacionamentos descartáveis? É possível ser feliz na perspectiva de, em dez anos ou um pouco mais ou menos, se transformar em bagaço nas sarjetas do mundo?
Dentre os comentários sobre o assunto, no site da Globo - Ciência e Saúde -, um leitor escreveu que, em campanha dos pedófilos, o tema seria: “Trago a felicidade precoce”. Que horror! Mas enquanto as sensações na pele estiverem acima do respeito pelo ser humano – criado à imagem e semelhança de Deus - e sua dignidade, muitas vidas se perderão nos aterros mantidos pelos que têm poder maior de decisão e são adeptos do uso e do abuso de pessoas e do extermínio de pequeninos.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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