As constantes crises políticas brasileiras, os escândalos de corrupção, a deficiente fiscalização e regulação por órgãos e autarquias governamentais e mesmo boa parte dos problemas sociais, inclusive a violência, têm um componente que continua impenetrável: o poder econômico. Na verdade, o resultado mais latente de sua influência é que relações de dominação e força, em vez de regras jurídicas fundadas na moral e na ética, passam a ditar os relacionamentos entre as pessoas.
Tais aspectos são evidentes no nosso cotidiano e infelizmente vêm de cima para baixo, ou seja, muitas autoridades e setores administrativos do país sucumbiram aos resultados sociais e econômicos desta triste situação. O que ocorre atualmente no Senado Federal, com salários e aposentadorias milionárias, demonstra cabalmente o desrespeito com a população e com o erário público, sem que ocorram quaisquer punições aos infratores, alguns inclusive, representantes eleitos pelo voto popular.
O conselheiro federal da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, Luiz Carlos Levenzon, há dois anos atrás, em artigo publicado pelo jornal “Zero Hora”de Porto Alegre – RGS, com raro brilhantismo já apontava aspectos que são manifestamente atuais:- “Diariamente a sociedade toma conhecimento de atos que confrontam com a moral e o direito. São novos na forma e na engenhosidade, e por até então estarem ocultos. Tornam-se públicos quando divulgados pela imprensa, que desempenha esta importante tarefa. Na substância, entretanto, não são originais. Ademais, tornar públicos atos dessa natureza significa submetê-los à avaliação da sociedade. Por isso, o desespero que se percebe entre aqueles que praticam tais atos ilícitos. Enquanto ocultos, geram benefícios particulares. Tornados públicos, acarretam a condenação moral pela sociedade. A censura social, realizada pela crítica que se segue ao conhecimento destes atos, é legítima, pois decorre da capacidade de indignação. Da não aceitação de condutas reprováveis” (29.06.2007- p.24).
Com efeito, o nobre jurista conclama para que as pessoas se levantem e repudiem energicamente situações em que recursos públicos sejam desviados, e utilizados para atender interesses particulares e tantas outras que contrariam princípios de Direito e sobreponham a própria dignidade do povo em geral. “Na medida em que aumenta – prossegue ele - e vai se tornando efetiva a participação do cidadão, se estabelece uma linha de controle rigoroso e eficaz. O repúdio coletivo à ruptura de normas éticas é perceptível. Não é admissível que faz-se a crítica pela via da generalidade, mas com a ressalva da necessidade de preservação das instituições. O Estado brasileiro tem ainda um enorme papel e desempenhar, especialmente para cumprimento das determinações constitucionais de alcançar a justiça social, a distribuição de renda e a erradicação da pobreza”.
Efetivamente, quem olha o Brasil apenas em seu aspecto de desenvolvimento e conquistas econômicas recentes pode até chegar à conclusão de que o país vive um de seus melhores momentos históricos, o que, em parte, é verdade. Mas uma análise mais acurada vem mostrar que, apesar dos avanços, o cidadão brasileiro continua assediado de todos os lados por problemas que o impedem de desfrutar plenamente da própria liberdade. É tudo por uma questão de falta de justiça social, que não permite a todos igual acesso aos bens materiais e culturais, aos meios de expressão e principalmente pelo mal e até inescrupuloso uso do dinheiro público.
Quem sabe assim, poderíamos reduzir a nossa lamentável e excessiva impunidade, fazer justiça com letras maiúsculas e eliminar da vida brasileira uma de suas manifestas angústias, tão bem concebida por Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos corruptos, o homem chega a desanimar-se a virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
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