Semana passada, passei por cirurgia da catarata. De acordo com minha amiga psicóloga, Miriam Maion Codarin, preciso de olhos saudáveis para prosseguir enxergando o sofrimento humano e de que eles brilhem e iluminem aqueles que não veem as desgraças dos de extrema pobreza. É a segunda cirurgia. As duas foram pelas mãos do competente médico oftalmologista Dr. ALMIR ABU JAMRA. Acalma a ansiedade perceber o respeito que ele nutre, com suas explicações e cuidados, pelo olhar sem sombras. Ao dizer da necessidade da cirurgia ao restabelecimento, Dr. Almir procede como num ritual sagrado de purificação. E não deixa de ser purificação. A troca da opacidade do cristalino por uma lente recupera a intensidade dos tons e reduz o véu que se sobrepõe à distância. No envelhecimento do cristalino, as formas, mais ou menos afastadas, perdem a identidade e as pessoas se tornam contornos apenas. A cirurgia depura a visão
Dentre os votos para que tudo desse certo – agradeço a todos – o do Carmelo São José, desejando que, sobretudo, o meu “olhar de fé” pudesse ver Deus em tudo. E esses acenos de Deus dão sentido à existência humana. Não posso, portanto, ficar atenta apenas ao acontecimento em si, necessito observar o entorno, se quero detectar os sussurros do Céu.
Quatro dias antes da cirurgia, a irmã do Dr. Almir, após um tempo de enfermidade, se entregou ao Eterno. Foi para a Luz. Um período de sofrimento para os seus, pois a morte dói naqueles que ficam. Teria ele todo o direito de adiar a cirurgia para viver o luto e as suas dores sem interferências externas, como preocupações médicas que requerem a sua dedicação ímpar. Comentou sobre o impacto de bem-querer que a irmã provocara em incontáveis pessoas, as quais se fizeram presença em seu velório. Observou, ainda, a força da palavra do Sacerdote que presidiu às Exéquias, ao refletir sobre a inutilidade dos acúmulos materiais diante da morte, pois o que fica são as virtudes semeadas pelos caminhos aonde vamos. Com certeza, são as virtudes que criam laços. E se manteve em pé em seu ritual sagrado com o propósito de possibilitar a claridade.
Recordei-me da Beata Elisabete da Trindade (1880 – 1906), a jovem carmelita francesa do Carmelo de Dijon. Poucos dias antes de sua morte, declarou que a vida é uma coisa muito séria e que o segredo para realizar o plano do próprio Deus é esquecermo-nos de nós. E que não tinha medo de sua fraqueza, pois o Forte estava nela.
Enquanto acontecia a cirurgia, embora um pouco sonolenta pelo anestésico, veio-me outra colocação da Beata Elisabete da Trindade: “Quero ser uma humanidade de acréscimo”.
Não tenho dúvida de que o Dr. Almir, além de exímio profissional, é humanidade de acréscimo.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil
NB.: Minha gratidão às secretárias do Dr. Almir e também ao serviço de enfermagem da SOBAM, que é altamente qualificado e de gentileza e carinho no trato.
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