A dinâmica educacional visa, em última análise, uma mudança de comportamento, por meio de todo um processo de aprendizagem que se deve buscar também com valores como justiça, solidariedade e respeito ao próximo.
Quem participa de tumultos gerais, fuma em locais não permitidos ou impróprios, realiza "rachas" nas vias públicas, depreda orelhões e escolas, não obedece aos sinais de trânsito, perturba o sossego público, enodoa paredes e monumentos com tinta "spray" e pratica outros atos como tais, provavelmente, tem evidente desnível de comportamento, talvez, por falta de melhor orientação na época oportuna por parte dos responsáveis.
A violência praticada por jovens está ficando cada vez mais preocupante. Muitos fatores têm gerado esse procedimento agressivo, que também alcança os adultos. Os verdadeiros ideais, aqueles que deveriam pautar nossos atos na procura do desenvolvimento da coletividade, estão sendo deixados de lado. Não se ouve falar em união ou solidariedade.
Em nosso país, um dos aspectos que agravam esse quadro é o da justiça social desconhecer o direito de todos à educação, reservando a cultura a uma classe privilegiada e fossilizando, assim, muitas forças humanas. Tal situação impede uma desejada racionalização da moral, em todas as suas manifestações.
A maior parte da população está descambando ao amoralismo, caminho seguro do egoísmo, da insensibilidade, da indiferença, da derrubada dos escrúpulos e da falência dos valores. Por isso, é preciso promover o crescimento pessoal do cidadão como ser moral.
Como regras de conduta, os campos da Moral e do Direito se entrelaçam e muitas normas da primeira se convertem em disposições jurídicas. O moralismo, desta forma, é indispensável à formação do comportamento de cada pessoa. Além da racionalidade, desconhece-se outro predicado no ser humano que o difere dos animais.
A mudança de procedimento, portanto, depende quase que exclusivamente da educação, cuja finalidade é formar homens plenos em sua humanidade. A preocupação com essa questão preponderante deve nortear nossos governantes e envolver todos os setores da sociedade.
Dora Incontri, jornalista, escritora e educadora, assim se expressou:-
"A educação não pode ser vista como responsabilidade apenas das escolas. Tudo na sociedade pode ser e é pedagógico, em sentido positivo ou negativo. Na família, no trabalho, nos meios de comunicação, na ação política, nos atos religiosos, em qualquer setor de atividade humana, estamos ensinando às novas gerações modelos e propostas de conteúdo técnico, político e moral. Isso é tanto mais verdade na sociedade moderna, em que a criança está em contato com o mundo pela televisão e pela interação intensa com os adultos." (O Estado de São Paulo - 9/12/1995, pág.2).
É visível a necessidade de empenho coletivo para que os reais objetivos educacionais sejam plenamente atingidos, e essa responsabilidade não se limita à autuação do educador, como profissional, mas envolve também uma sensível participação dos órgãos governamentais e dos demais setores sociais para prover e alocar recursos suficientes e adequados ao perfeito cumprimento desses objetivos.
Por outro lado, sabemos que, comprar e pagar, dar e receber, emprestar e devolver, prometer e cumprir, dizer e sustentar, assumir e não desistir, são obrigações comezinhas, ligadas à ética, que é o uso do senso da qualidade nas relações. Esse senso é a percepção das prerrogativas dos outros (naturalmente, para os demais, os outros somos nós). Trata-se da percepção de direitos básicos, revelados nas idéias sobre o que e o que não se pode praticar, o que exige consciência nítida da responsabilidade da convivência. É a defesa de todos e de cada um contra lesões reconhecidas como tais, contra à pessoa, física e espiritualmente.
Assim, respeitar o próximo e a si mesmo em primeiro lugar, são atitudes positivas, de ordem moral e que não se confundem com puritanismo. Ao contrário, são aspectos inerentes à prática do Direito em sua mais primordial finalidade, que é a de regular a ordem social. Por isso, o objetivo central da educação deve ser o de desenvolver seres humanos com uma razão crítica, com uma visão de mundo ético e humanista, com criatividade, senso estético e equilíbrio afetivo e psíquico. E por mais que isso contrarie muitos tecnicistas da educação, a família e a escola devem se preocupar tanto com valores como justiça, solidariedade, respeito ao próximo, como com matérias básicas como Matemática e Português.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, professor universitário e escritor.
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