Todas as pessoas tem, durante suas vidas, momentos que as marcam especialmente, que, por inúmeras razões, diferenciam-se dos demais dias vividos. Infelizmente, alguns desses momentos são dolorosos e deixam cicatrizes profundas. Outros, entretanto, são felizes e constituem as boas razões pelas quais vale a pena passar por esse mundo...
Assim, tive a dádiva de, nos últimos dias, vivenciar momentos que, no meu referencial de vida, foram sublimes. Na verdade, sequer sei se conseguirei explicar corretamente a quem não conhece o assunto ou a quem não estava presente lá, mas, de toda forma, hoje, é o que minha inspiração me pede para deitar ao papel.
Sou praticante de aikido há alguns anos e aprendi muito com essa arte marcial, sobretudo como ver a vida de um modo diferente. Há cerca de dois anos, nosso Sensei e um grupo de aikidoístas iniciamos as preparação para recebermos, aqui no Brasil, amigos e senseis de outros países.
De preparativos em preparativos, o tempo passou muito rapidamente e, quando vimos, já estava na hora. Assim, de repente, nos vimos em meio a ingleses, australianos e japoneses, todos dentro do mesmo tatame, vibrando em uma mesma sintonia. Pouco importava que a maior parte sequer entendia o que os outros falavam, pois mesmo quando não havia ninguém para traduzir, partíamos para o gestual, ou, simplesmente, deixávamos nosso coração falar por nós.
A par de eu constatar que preciso, urgentemente, aprimorar meu inglês, só para dizer o mínimo, eu percebi que, no fundo, as fronteiras físicas e culturais não são relevantes. O que importa, de verdade, é o que move as pessoas, que tipo de energia e de intenção as une. O resto vai acontecendo...
Não sou capaz nem mesmo de entender o que nos fez, a todos, amigos em poucos dias, o que transformou frases inteiras em sorrisos simples e largos. Foram dias incríveis não apenas porque treinamos muito, porque saímos para comer e beber, porque rimos demais, mas porque vivenciamos sentimentos de família, de uma família que não se constituiu por sangue, pela lei ou pela proximidade, mas pela sinergia, pela vontade de nos descobrirmos, de fazermos parte de um todo maior e único, pelo desejo de, pelo esporte, estarmos mais perto do Criador...
Eu já havia ouvido que o esporte tem esse poder, mas apenas agora é que de fato entendi. Foi incrível ver jovens, e nem tão jovens, brasileiros e estrangeiros, homens e mulheres, brancos, negros e amarelos, tudo junto e misturado, como devia sempre ser pelo mundo afora.
Compreendi, por fim, o significado de Paz...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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