PAZ - Blogue luso-brasileiro
Terça-feira, 23 de Julho de 2013
FRANCISCO VIANNA - A VENEZUELA, O BRASIL, E A CHINA COM SEU CAPITALISMO DE ESTADO

 

 

 

 

 

 

Os analistas econômicos que se debruçam sobre a situação atual da Venezuela, dizem que os investimentos externos no país, especialmente os chineses, caíram de forma impressionante e estão por um fio de serem completamente interrompidos, em função da crise asfixiante de liquidez que o país sulamericano atravessa.

O governo de Nicolás Maduro, cuja autenticidade ainda é motivo de discussões internas e externas no Tribunal Internacional de Justiça da ONU, em Genebra, tenta desesperadamente convencer Pequim a manter abertas as linhas de crédito e investimento do país asiático na Venezuela.

Por sua vez, a China tem dado sinais de que está difícil fazer isso, em função do fato de que Caracas não vem honrando os compromissos assumidos bilateralmente e a percepção de um risco maior e crescente de se investir no país sulamericano, risco esse que já vinha aumentando antes da morte de Hugo Chávez e que só tem se agravado atualmente.

“A verdade é que os chineses se desencantaram com a corrupção rampante do governo venezuelano, que enriquece os membros do “politiburo comunista de Caracas” enquanto empobrece de maneira acentuada a população do país, cujo PIB está em queda livre, com a fuga da mão de obra especializada e dos capitais privados da Venezuela”, disse Antonio De La Cruz, diretor executivo da empresa de assessoria “Inter American Trends”.

 

 

 

 

As escoras externas que ainda impedem a Venezuela de afundar de vez na miséria socialista.

 

“A decepção chinesa com o regime ‘bolivariano’ reside no fato de os fundos que ingressam na conta do BANDES (o BNDES venezuelano) quase sempre nunca chegam a ser aplicados nos seus respectivos projetos e o mesmo ocorre com investimentos brasileiros – a maioria com dinheiro público governamental de Dilma Roussef – sendo desviados para contas particulares de membros da cúpula ‘bolivariana’”, conforme explicou Evan Ellis, professor de Estudos de Segurança Nacional da Universidade Estatal de Defesa Nacional. “Os chineses reclamam que a Venezuela se tornou um ‘poço sem fundo’ para o dinheiro lá investido e que as recomendações de Pequim estão sendo solenemente ignoradas por Caracas”, acrescentou Ellis.

A pesar de o Brasil também ter diminuído os empréstimos a Caracas e suspendido alguns projetos bilaterais, como uma refinaria de petróleo em Pernambuco, tudo isso, por motivos ideológicos, vem sendo feito em silêncio corroborado pela mídia brasileira subserviente ao governo de Brasília.

Tais frustrações e preocupações quanto a estabilidade do regime após a morte de Chávez têm sido os principais obstáculos aos esforços de Caracas de continuar a drenar recursos chineses para o país, recursos esses que já ultrapassam os 4 bilhões de dólares em empréstimos ‘renováveis’ que Venezuela se propõe pagar com envios de petróleo para a China e Brasil.

Ninguém, do governo de Maduro, se dispõe a falar sobre o assunto para a mídia internacional e, muito menos, para a local. Tais problemas ficaram mais evidentes com a visita do chanceler Elías Jaua a Pequim, em fevereiro último, pouco antes de o regime anunciar o falecimento de Hugo Chávez. Jaua fora a Pequim numa tentativa de destravar o fluxo de dinheiro chinês, mas, “na ocasião os chineses simplesmente lhe disseram um redondo ‘não’ e de uma forma inusitadamente pública lhe expressaram sua frustração pela maneira como Caracas dispõe dos referidos recursos”, acrescentou ainda Ellis.

Ao que parece, os chineses foram com muita sede ao pote na Venezuela e, quando agora percebem o tamanho do calote que surge no horizonte, passam a reconsiderar o tema a pisar fortemente no freio. Todo esse imbroglio ganhou importância e evidência durante os meses de agitação social que se seguiram à morte do caudilho Hugo Chávez.

Qualquer um, que examine a situação da Venezuela hoje, tem a impressão de que o país já representa um risco demasiado alto para qualquer investimento externo, tanto público como, principalmente, privado.

O Banco de Desenvolvimento da China foi claro e enfático ao declarar que o dinheiro enviado por Pequim e outros países, como o Brasil, não está sendo usado corretamente nos projetos a que, teoricamente, se destinam e que, ao invés disso, “acaba indo para o bolso de certas pessoas” do politiburo bolivariano.

Como a PDVSA, a Petrobrás deles lá na Venezuela, vem diminuindo rapidamente a sua produção de petróleo – seja por dificuldades de mão de obra de manutenção de suas instalações que se encontram em adiantado estado de deterioração, seja por incúria e incompetência de seus governantes – o fato é que os chineses começam a ter a certeza sinistra de que a Venezuela não tem uma produção de petróleo suficiente para garantir os compromissos internacionais assumidos com a China, a Rússia (armamentos) e o Irã. Tal certeza se consolida também pelo fato de que a estatal petroleira da Venezuela vem, desde 2011, alterando os termos do acordo firmado com a estatal chinesa e, com a desculpa do preço mais alto do petróleo, enviar cada vez menos volumes para Pequim, ignorando, assim os termos do acordo de que todo o excedente ocasionado pela variação de preços da mercadoria teria que ser depositado, por um ou pelo outro, num fundo especial chinês criado para usá-lo em futuros empréstimos a Caracas.

Até que houve, como no Brasil, uma “reação do governo” local empreendida pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, contra a corrupção, mas que, também como no Brasil, levou apenas à prisão de “peixes miúdos”, com os principais tubarões ainda incólumes e a desfrutar o grosso do dinheiro desviado. Essa, aliás, é uma praga comum na política e na economia sulamericana e, quanto mais o país é estatizado, com mais intensidade ela incide. No caso da Venezuela, os “bois de piranha” presos foram responsabilizados pelo desfalque de apenas 84 milhões de dólares – menos de um quinto do total – do fundo Chinês-Venezuelano e do BANDES.

A busca pelo dinheiro chinês acontece numa hora em que a Venezuela atravessa uma dentre as priores faltas de moeda e de liquidez de sua história, a ponto de se sentir o país ameaçado de ter sua economia totalmente paralisada pela hiperinflação que bate às portas de Caracas e que cresce a taxas às mais altas do planeta.

A impressão que se tem é a de que a Venezuela só não entrou ainda em colapso total graças a esse reduzido fluxo externo de divisas estatais provenientes, principalmente, de China e Brasil, sem os quais a vaca venezuelana, que já foi para o brejo, já teria atolado totalmente.

A história recente da Venezuela conta com ricos detalhes como o socialismo não passa de um mero golpe conduzido por um grupo de pessoas dentro do país, não habituadas ao trabalho duro, honesto, e constante que, uma vez reunidas e organizadas, após tomarem o poder, agem apenas na gerência de negócios espúrios para enriquecimento próprio de sua reduzidíssima burguesia governamental. Nada, na Venezuela, parece se encaminhar de modo diferente do que ocorre com os poucos países que ainda insistem no socialismo. Com a exceção, talvez, da própria China que desenvolve uma forma extremamente imperialista de capitalismo: o capitalismo de estado, sem concorrência interna e agindo de forma insidiosa no exterior.

 

Segunda feira, 22 de julho de 2013


 

 

FRANCISCO VIANNA  -   Médico, comentador político e jornalista  - Jacarei, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 10:13
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