PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quinta-feira, 29 de Agosto de 2013
PAULO ROBERTO LABEGALINI - O BORDADO DA VIDA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Este texto serviu de reflexão espiritual para um grupo de vicentinos há tempos atrás:

“Quando era pequeno, minha mãe costurava muito. Sentava-me perto dela, perguntava o que fazia e ela me respondia que estava bordando. Eu observava seu trabalho de uma posição mais baixa de onde ela ficava e sempre lhe dizia que parecia muito confuso aquilo que fazia. Ela sorria, olhava para baixo e gentilmente pedia:

– Filho, saia um pouco para brincar e, quando terminar, te chamarei, te colocarei sentado em meu colo e te deixarei ver o bordado desta minha posição.

Perguntava-me por que ela usava alguns fios de cores escuras e por que eram tão desordenados de onde eu estava. Minutos mais tarde, eu a escutava chamando:

– Filho, venha e senta-te em meu colo.

Eu corria ao seu encontro e me emocionava ao ver a formosa flor e o belo entardecer no bordado. Não podia crer: de baixo parecia tão confuso e, na verdade, era tão bonito! Então, minha mãe dizia:

– Filho, de baixo para cima é confuso e desordenado, porém, não te ocorreu de que há um plano acima? Primeiro, havia um desenho riscado; eu o segui e, agora, olhando-o da minha posição, sabes que eu estava realizando um lindo trabalho!

Desde aquela época, ao longo dos anos, muitas vezes olhei desanimado para o céu, dizendo:

– Pai, o que estás fazendo?

Ele sempre respondeu:

– Estou bordando tua vida.

– Mas, está tudo tão confuso, em desordem! Há muitos nós, fatos ruins que não terminam e coisas boas que passam rápidas demais! Os fios parecem tão escuros; por que não são mais brilhantes?

E o Pai celeste me fez compreender:

– Meu filho, ocupa-te do teu trabalho e eu farei o meu. Um dia te trarei ao Céu, te colocarei em meu colo e, então, verás o plano da tua vida da minha posição.”

Pois é, esta história mostra que muitas vezes não entendemos o que está acontecendo ao nosso redor, porque as coisas parecem não se encaixar e muitas não dão certo. Acontece que estamos vendo o avesso da vida e somos péssimos atores – não nos esforçamos em ajudar a melhorar cada situação desfavorável. Precisamos ter a certeza de que, do outro lado, Deus está bordando para nós.

Na verdade, esse bordado tem apenas uma linha reta, que vai do nosso nascimento até o Céu. Cada vez que nos desviamos desse caminho, nosso Pai desenha um atalho e pede que voltemos à linha da salvação. Como isso acontece centenas de vezes durante a nossa existência, o desenho fica todo remendado e, olhando do avesso, parece horrível!

Não é isto que ouvimos de tanta gente: ‘minha vida é uma porcaria e cada vez piora mais’?Olhando do ângulo de quem perdeu a esperança na felicidade, faz algum sentido; mas, quem já não experimentou muitos sofrimentos desde que nasceu? Eu, por exemplo, quanto mais fui provado, mais cresceu a minha fé.

É importante sabermos que destino não existe e tudo pode ser mudado pela oração. Rezando e fazendo o bem, ficamos sempre próximos da linha que Deus gostaria de bordar para nós. Mas precisamos pedir a Ele que troque a cor do fio de vez em quando, confiando que uma linha mais clara nos ajudará a enxergar as graças que recebemos a todo momento.

Reclamar é muito fácil, basta continuar olhando o ‘bordado’ do lado do avesso. Tudo continuará confuso e sem nenhuma possibilidade de conserto. Será que vale a pena ficar comodamente no plano de baixo, esperando os nós se desatarem e o desenho se tornar bonito? Como ter esperança que isto aconteça sem contarmos com as habilidosas mãos de Deus? Quanto mais desprezarmos a providência Divina, mais confuso ficará o bordado e mais distantes estaremos do Céu.

Portanto, mesmo quem nunca bordou, pode entender que só há um lado para apreciar a beleza do desenho de nossa vida: o lado da santidade visto do alto. Quem não vê as coisas com amor, não consegue vislumbrar como a vida é bela e quantas bênçãos recebemos a cada novo amanhecer. São muito mais graças do que tropeços, muito mais alegrias do que tristezas; porém, há muito mais locais de pecado do que de oração. Cabe a nós mudarmos essa realidade.

Se eu tivesse desanimado nas doenças que experimentei, não estaria vivo hoje. Se tivesse virado as costas para todos os pobres que cruzaram o meu caminho, não teria méritos perante Deus. Se não tivesse uma palavra de esperança às pessoas desesperadas que conversei, não continuaria como agende da Comunidade Nossa Senhora do Sagrado Coração. E se não acreditasse na ação do Espírito Santo, pensaria que tenho poderes sobrenaturais e tudo estaria perdido.

Sentando no colo do Pai e percebendo como o trajeto é curto e direto rumo ao Céu, talvez colaboremos mais na beleza do bordado. Para Deus, é um trabalho simples e fácil, desde que entreguemos a Ele uma procuração para desenhar o quadro da nossa vida. Então, nosso querido Pai usará fios dourados e a perfeição se estabelecerá.

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.



publicado por Luso-brasileiro às 18:24
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