Como diria o coelho da Alice nos País das Maravilhas, já é tarde, é tarde, é tarde, é muito tarde. Sempre estou encima da hora, sempre com o tempo me fazendo cócegas na orelha, avisando-me de que o minuto posterior já está me cobrando atitudes. Nunca estou com tempo sobrando, ou com o horário folgado. Embora tudo isso seja em grande parte minha culpa, eu confesso que me sinto como quem está sendo compelido a andar, a desocupar a área porque “atrás vem gente”...
Agora mesmo escrevo rezando para não errar nada e para não perder o fio da meada, pois tenho apenas 15 minutos para finalizar esse texto, essas ideias. Ou seja, não tinha outro assunto que pareceu possível, nessas condições, de ser escrito. É sempre tarde, sempre hora, sempre um minuto após ou um minuto antes.
Toca o telefone. Não posso atender, senão a coisa vai desandar. Preciso me concentrar, embora eu esteja em uma sala com várias pessoas conversando ao mesmo tempo e sobre coisas diferentes. Curiosa, fico tentada a escutar o que se passa ao meu redor, mas é preciso centrar meus esforços. Olho no relógio. Será que vai dar tempo? Ai e esse telefone que não para. Desisto. Vou ter que atender. _Alô! É urgente? Não. Então me liga depois, em 17 minutos cravados. Vou precisar de um minuto para ir ao banheiro e para tomar uma água.
Bom, sobre o que eu escrevia mesmo? Que droga de interrupções... Ah, não podia perder o fio da meada... Tarde demais. É tarde, de novo, é tarde e muito tarde. Lembrei que preciso fazer um coelho de tecido, prometido a uma amiga. Ah meu Deus, a hora está passando e eu já me desconcentrei. Escuto alguém me chamar, mas vou tentar fingir que não ouvi... Não deu certo. Oi. Diga, querida. Em que posso ajudá-la? Ah, pode ser amanhã? Sim, prometo, eu te ligo. Beijinhoooo.. Também te adoro, ufa.
Eu sempre me prometo que vou escrever meu texto semanal antes, mas tem sempre tanta coisa para fazer, tanto sono para dormir ou insônia para curtir, tão pouco tempo, tanta coisa para fazer e tanta vontade de não fazer parte delas, tipo tirar o lixo, lavar roupa. Dormir é bom mais cansa também, sobretudo quanto a gente pode fazer isso. Mas não era disso que eu falava. Já me perdi. O telefone de novo? Ninguém merece. Ele não toca, ele berra ou zurra, sei lá. Não vou atender. Mensagem de sms: Vamos? Já estamos atrasados...
Desisto! É tarde, é tarde, é tarde é muito tarde. Acabou-se o tempo para os coelhos, para o relógio e para escrever. Vai assim mesmo e seja o que Deus quiser...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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