O fetiche da mercadoria é algo que se arraiga ao comportamento moderno e nos escraviza, mesmo que tenhamos a ilusória impressão de que "é assim mesmo", ou "isso é normal".
Afinal, quem não se enquadra na moda fica à margem, num ostracismo velado.
É nociva a maneira como a publicidade nos impõe gostos, posturas, jeitos, olhares, identidades, ou melhor, como coloca o "não" à frente de cada uma destas palavras. Pois o que somos diante da mesmice que nos consome? Um "não". A negação de nossa personalidade, a aceitação do que é imposto, sim, imposto. Aí vão dizer "não, mas as pessoas querem isso, as pessoas gostam disso". E qual a opção?
A questão do gênero, por exemplo, é algo extremamente trabalhado e direcionado pelo mercado. Sou obrigada a vestir calças que não entram em minhas pernas rechonchudas e meus tornozelos grossos, porque não encontro um modelo feminino que me sirva. Então sou eu que estou fora dos padrões. De todos os padrões ditados: de beleza, de vaidade, de uniformidade, de submissão... E se a calça entrar, não cobrirá minha amada barriga, pois chegará, provavelmente, até a direção da virilha.
Se eu for em busca de uma jaqueta, tenho que rodar lojas e mais lojas para encontrar uma que, minimamente, me cubra o mínimo necessário, já que essas peças, hoje em dia, não descem mais do que a região dos peitos.
Até para comprar uma básica camiseta é um dilema. Não gosto de nada me apertando, mas os modelos de roupas femininas sempre têm esse toque justo.
Alguém está ganhando muito dinheiro com essa política de ênfase que se dá a tal prática separatista de gênero no mercado de roupas e afins. De minha parte garanto que não estou ganhando, mas só gastando!
Até mesmo a questão das cores virou alvo de preconceitos e vemos gerações crescendo à luz dessa ditadura do gosto.
Curioso é lermos que hoje há tantas opções de tudo. No entanto, nossa liberdade está condicionada às opções que o mercado nos dá e não àquelas que porventura desejamos. Isso não é novidade, a novidade é estarmos convencidos de que o fato de termos muitas opções, temos a alforria.
Não há o que escape de ser obsoleto e com isto somos obrigados a trocar algo que muitas vezes não queríamos substituir, ou seja, somos compelidos a consumir.
Este é o nosso mote: seres consumistas. Até no pensamento.
Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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