Estava a ver a TV Globo, quando de repente surge a presença de conhecida e popular figura pública. Atentei, na esperança de ouvir opiniões de destacada personalidade. Falou sobre si, dos seus sucessos, dos prémios que recebeu, e a determinado momento sai-se com esta:
- “ Tenho muita fé na Senhora Aparecida, mas para mim a Santa Forte é a de Fátima!” - e solta jovial gargalhada, que valeu salva de palmas da assistência.
Pus-me, então, a pensar: Como é que alguém, com a projeção daquela notável figura, pode asseverar, perante as câmaras, tal coisa?
Lembrei-me logo de certo concurso, realizado na RTP, onde engenheiro, que participava, ao ser-lhe perguntado se sabia quem era a freira portuguesa, que escreveu cartas de amor, que ficaram na literatura, logo, muito lampeiro respondeu, com ar de entendido:
- “ Religiosa tão ilustre e portuguesa, só pode ser Nossa Senhora de Fátima!”
Sei que a ignorância religiosa não tem limites, mesmo em quem possui grau académico e frequente o culto; mas afirmar que a Santa de Aparecida é menos “ taumaturga” de que a de Fátima, é desconhecer quem é Nossa Senhora; é desconhecer quem é a Mãe de Jesus; é desconhecer o Evangelho.
Custa-me acreditar, mas sei que há milhares, para não dizer milhões de crentes e não crentes, que pensam que cada evocação a Maria, é uma Santa.
Sei que milhares de pessoas percorrem largas distâncias, para pagar promessas e pedir graças, à Virgem, pensando que a “imagem” que se encontra na sua paróquia é menos milagreira, que a do santuário mariano.
Padre António Vieira, conta, com grande beleza, que foi um estatuário, ao monte, cortar um cepo. Fende-o em duas metades: uma lança ao fogo, para se aquecer, a outra, transforma-a num ídolo; e termina, afirmando - que fica pasmado, porque sendo ambas as partes do mesmo cepo, uma seja adorado e outra queimada!
Também fico pasmado, ao ouvir figuras públicas, abordar temas religiosos, e muito mais quando de declaram crentes.
Se outrora a Igreja, não esclarecia devidamente os fiéis, atualmente não há razão para tanto desconhecimento.
Em muitas paróquias há catequese para adultos. Existem cursos bíblicos, gratuitos, por correspondência; e na Internet há sites de ótima qualidade sobre o tema.
A difusão da Bíblia foi de tal forma feita, que só não possui um exemplar, pelo menos do Novo Testamento, quem não quer.
Afirmações, como esta, que ouvi na TV Globo, há anos, ditas por quem se declara crente, nada dignifica quem o diz e são demonstrativas que há ainda muito para evangelizar.
É urgente cristianizar os cristãos, como dizia certo religioso da Ordem Menor, no tempo da minha adolescência.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
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