Não é surpresa para ninguém que ser professor hoje é perigoso. O mestre deveria receber auxílio periculosidade. Assim como não se respeitam os pais, também os professores passaram a ser considerados empregados dos alunos. “Quem paga manda!”. Por isso, o número imenso de professores licenciados, afastados por problemas de saúde, consumindo tranquilizantes e necessitando de terapia.
A mídia tem noticiado episódios que envergonhariam uma nação civilizada. Não estou falando do Brasil. Aqui, além dos episódios “deixados prá lá”, em nome do tradicional “deixa disso”, ocorrências mais graves chegam à polícia e, depois disso, à Justiça.
Ainda há pouco, uma charge reproduzia com eloquência a situação brasileira. Há 20 anos, os pais mostravam o boletim para o filho e indagavam: “O que é isso?”. Hoje, eles levam o boletim para o professor e questionam: “O que é isso?”. Os filhos sempre têm razão.
Seja qual for a idade. O professor é um prestador de serviço que tem o salário pago pelo aluno. Este passou a ser o patrão do mestre.
Um caso judicial eloquente: em Bragança Paulista, um aluno de 20 anos – não está no pré-primário! – atirou uma casca de banana na professora de geografia. Os 10 mil reais que em tese deverá pagar à ofendida não fazem desaparecer seus abalos psicológicos e a dificuldade em continuar a lecionar naquela escola.
Na apuração dos fatos, dois alunos devem responder por falso testemunho, pois o juiz considerou que eles prestaram informações falsas.
Esse o Brasil que está num dos últimos lugares na apuração da consistência da escolarização oferecida às crianças e jovens. Educação começa em casa. Os pais, de modo geral, não têm se preocupado com os modos de seus filhos. Acham que as crianças ficam traumatizadas se repreendidas.
Podem fazer tudo, falar com franqueza, chamar o professor de você, ficar com o celular recebendo e mandando ´torpedos´ durante a aula, passar bilhetinhos, rir de quem está tentando transmitir algo para uma assistência à qual falta interesse e sobra arrogância. O que será que nos espera daqui a algumas décadas? Alguém se arrisca a vaticinar?
JOSÉ RENATO NALINI é Corregedor Geral da Justiça do Estado de São Paulo, biênio 2012/2013. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.