O que vem a seguir não fui eu que escrevi, mas reproduzo porque também ando com saudades de ver: namorados inocentes dando beijinhos no portão; crianças pedindo bênção a pai e mãe; pessoas fazendo sinal-da-cruz quando passam na frente da igreja; adultos sentindo respeito pela polícia; patriotas cantando o hino nacional com as mãos no peito e lágrimas nos olhos.
Dá saudades de saber que: o Zezinho, filho do porteiro, não vai morrer de dengue; a Maria feirante poderá ter um filho médico; homens mantêm apenas o assobio ‘fiu-fiu’ como galanteio; o presidente de uma nação é o mais respeitado cidadão do país.
Ando com saudades de: galinha de galinheiro; macarrão feito em casa; boa novela com final feliz; pipoca doce de pipoqueiro; dar bom-dia à vizinha feliz; ouvir alguém dizer obrigado ao motorista e ele frear devagarzinho, preocupado com o passageiro. Saudades de gritar que a porta está aberta para os que chegam, saudades do tempo em que educação não era confundida com franqueza. Hoje, se fala o que quer e pedir perdão virou raridade.
Ando com saudades de ver no céu pipas não atingidas pelo efeito estufa. Saudades das chuvas sem acidez, que não causavam aridez. Saudades de poder viajar sem medo de homem-bomba, e ser recebido com alegria em outra nação. Atualmente, reina a desconfiança no coração.
Sinto muitas saudades do rubor das faces de minha mãe quando se falava de sexo. Hoje, isso é tão vulgar que até eu banalizei. Mas, acho que a maior saudade que tenho é a saudade de tudo que acreditei. Para meus filhos, não poderei deixar sequer a esperança. Aliás, hoje já não se nasce criança!
O texto que me referi no início termina aqui, porém, não posso deixar de citar que também tenho saudades das famílias que iam às missas domingo à noite. Nos velhos tempos, víamos pais e filhos juntos nos bancos das igrejas, rezando com muito respeito e devoção. Ainda hoje isso acontece, mas em menor número ou quase exclusivamente em missas da catequese.
Rezar já não é prioridade nos lares cristãos, mas os maus exemplos de Big Brother e outras indecências continuam fazendo sucesso. Sei que pouca gente sentirá saudades dessas baixarias um dia, mas, como Deus tudo perdoa quando há arrependimento sincero, sempre é tempo de melhorar.
E para refletir um pouco mais na vida que estamos levando, passo a narrar esta história:
Havia um professor de química que ministrava aulas para alunos que faziam intercâmbio. Um dia, enquanto a turma estava no laboratório, o professor notou um jovem que continuamente coçava as costas e se esticava de dor. Questionado do problema que sentia, o aluno respondeu:
–Tenho uma bala alojada nas costas. Fui alvejado enquanto lutava contra os comunistas de meu país, para derrubar o governo e instalar um novo regime.
Depois da aula, retomando sua história, ele olhou para o professor e fez uma estranha pergunta:
–O senhor sabe como se capturam porcos selvagens?
O professor achou que se tratava de uma brincadeira e esperava uma resposta engraçada. O jovem disse que não era piada, e continuou falando:
–Captura-se porcos selvagens encontrando um lugar adequado na floresta e colocando algum milho no chão. Os porcos vêm todos os dias comer o milho gratuito. Quando eles se acostumam a voltar, você coloca uma cerca de um só lado do lugar em que eles chegam. Quando se acostumam com a cerca, voltam a comer o milho e você coloca outro lado da cerca. Mais uma vez eles se afastam e voltam a comer.
O mestre não estava entendendo nada, mas o deixou prosseguir.
–Você continua desse jeito até colocar os quatro lados da cerca em volta do milho com uma porta no último lado. Os porcos que já se acostumaram ao milho fácil e às cercas, começam a vir sozinhos pela entrada. Você então fecha a porta e captura o grupo todo. Assim, os porcos perdem a liberdade, ficam correndo e dando voltas dentro da cerca, mas já foram pegos. Logo, voltam a comer o milho gratuito. Eles ficaram tão acostumados a ele que esqueceram como caçar na floresta por si próprios e, por isso, aceitam a servidão.
O jovem, pasmo, disse ao professor que era exatamente isso que ele via acontecer em seu país. O governo ficava empurrando-os para o comunismo e o socialismo, espalhando ‘milho gratuito’ na forma de programas de auxílio de renda, bolsas disso e daquilo, cotas para estes e aqueles, subsídio para todo tipo de coisa, programas de bem-estar social, medicina e medicamentos ‘gratuitos’,tudo ao custo da perda contínua da liberdade – migalha a migalha!
E concluiu o seu pensamento:
–Devemos sempre lembrar que não existe esse negócio de almoço grátis e também que não é possível alguém prestar um serviço mais barato do que seria se você mesmo o fizesse com dignidade.
Pois é, com mais esta cutucadinha na consciência de cada um, espero que possamos trabalhar para um futuro melhor. E que Deus nos ajude quando trancarem mais alguma porteira!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.
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