Talvez a ideia tenha nascido pelo fato de praticar de uma arte marcial japonesa, talvez pelo fato de ter morado quase a vida toda em cidades nas quais a comunidade japonesa sempre foi abundante e, por isso, não apenas ter convivido com muitos japoneses e descendentes, mas com sua cultura, mas, seja pelo que for, inventei de aprender japonês.
Assim, matriculei-me em uma aula semanal de uma e meia com uma professora nativa. Ajudou o fato de a professora ser ótima e da turma ser diminuta, mas eu tenho me sentido, a par disso, na pré-escola. Já nas primeiras aulas fui apresentada ao alfabeto. Não apenas para conhecer, mas para aprender a escrever.
Caderno de caligrafia na mão e um nó no cérebro, lá fui eu. Acho que nem meus primeiros rabiscos de infância foram tão vacilantes. Começa que a coisa toda se dá de trás para frente, o que por si só subverteu uma ordem já arraigada no meu subconsciente e me deixou vacilante por um bom tempo. Além disso, a ordem das letras não é a, e, i, o, u, mas a, i, u, e, o. Pensa agora se meu pobre cérebro não começou a entrar em parafuso...
Fiz uma aeróbica cerebral e decorei os primeiros passos. Fui, assim, confiante para segunda aula e depois de várias outras letras e primeiras palavras, concluí que o risco de dar curto circuito nas minhas ideias é mais de 100%. Agora, antes de cada nova aula, já começa a me dar um frio na barriga... Sei que a professora vai me perguntar mil coisas e eu ainda memorizando e tentando dar lógica à primeira meia dúzia de palavras que eu ouvi...
Resolvi, contudo, que não irei me render. Mesmo que eu tenha que gastar todo meu estoque de fosfato, providenciar novas sinapses, emprestar um pouco de inteligência artificial, ainda irei escrever e falar japonês o suficiente para uma viagem que sonho em fazer, um dia, a terra do Sol Nascente...
Quem sabe, depois disso, seja quando for, eu não me aventure para um coreano, chinês ou mandarim, isso se me sobrar alguma capacidade cognitiva para tanto. Confesso, entretanto, que há, também, nesse intento, certo desejo de vingança, de entrar em um restaurante oriental e responder quando começarem a falar perto de mim, como se eu e mais ninguém estivéssemos presentes. É quase como um amigo que disse que tinha um sonho de montar uma pastelaria no Japão e ficar falando português com alguém o tempo todo, só para ver a cara dos clientes, hehehe...
Enfim, sei que a cada dia, para alcançar esse objetivo de conhecer um pouco dessa língua tão apartada da portuguesa, terei que me dedicar, estudar e até mesmo torcer para que eu não entre em parafuso antes disso. Em um devaneio fico me lembrando da música do Djavan e penso em como seria “aprender japonês em braile”...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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