PAZ - Blogue luso-brasileiro
Terça-feira, 1 de Outubro de 2013
PAULO ROBERTO LABEGALINI - O VALOR DE UMA AMIZADE

 

 

 

 

 

 

Eis o testemunho de um advogado, refletindo sobre os compromissos para com os nossos amigos:

“Um dia, me fizeram esta pergunta: ‘O que de mais importante você já fez na vida?’. A resposta me veio na hora: O mais importante que já fiz ocorreu em 8 de outubro de 1990. Comecei o dia jogando golfe com um amigo que há muito não via. Entre uma jogada e outra, conversávamos a respeito do que acontecia com cada um. Ele me contava que sua esposa acabava de ter um bebê.

Enquanto jogávamos, chegou o pai do meu amigo e, consternado, lhe disse que seu bebê parou de respirar e foi levado ao hospital. No mesmo instante, ele subiu no carro do pai e partiram. Por um momento fiquei onde estava, mas logo tratei de pensar no que deveria fazer.

Seguir meu amigo ao hospital? Minha presença – disse a mim mesmo – não serviria de nada, pois a criança certamente estava sob cuidados médicos e nada havia que eu pudesse fazer para mudar a situação.

Oferecer meu apoio moral? Talvez, mas tanto ele quanto sua esposa eram de famílias numerosas e, sem dúvida, estariam rodeados de familiares que lhes ofereceriam apoio e conforto necessários, acontecesse o que acontecesse. A única coisa que eu faria indo até lá seria atrapalhar.

Quando dei a partida no carro, percebi que meu amigo havia deixado o seu veículo aberto e com a chave na ignição. Resolvi, então, fechá-lo e ir até o hospital entregar-lhe a chave. Como imaginei, a sala de espera estava repleta de familiares que os consolavam.

Entrei e fiquei junto à porta pensando o que deveria fazer. Não demorou muito e surgiu um médico que, em voz baixa, comunicou o falecimento do bebê. Durante os instantes que ficaram abraçados, a mim, representaram uma eternidade! Choravam, enquanto os demais ficaram ao redor daquele silêncio de dor.

O médico lhes perguntou se desejariam passar alguns instantes com a criança. Antes de concordarem, ao me verem ali, meus amigos me abraçaram e voltaram a chorar. Disseram por mais de uma vez: ‘Muito obrigado por estar aqui’.

Durante o resto da manhã, fiquei sentado na sala de emergência vendo o casal segurar o bebê nos braços, despedindo-se dele. Sem dúvidas, isso foi o mais importante que já fiz na minha vida. Aquela experiência me deixou três lições:

Primeira: O melhor que fiz na vida ocorreu quando não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer. Nada daquilo que aprendi na universidade, nem no exercício da minha profissão, nem todo o racional que utilizei para analisar a situação, ajudaram a decidir o que eu deveria fazer.

Segunda: Ao pensar com o coração, aprendi a ter compaixão. Hoje, não tenho dúvida alguma de que devia ter subido imediatamente naquele carro e acompanhar meu amigo ao hospital.

Terceira: Entendi que a vida pode mudar num instante. Intelectualmente, todos nós sabemos disso, mas acreditamos que os infortúnios só acontecem com os outros. Assim, fazemos nossos planos e imaginamos um futuro egoísta e maravilhoso, como se não houvesse espaços para outras pessoas e ocorrências.

Ao acordarmos de manhã, esquecemos que perder o emprego, ter uma doença, cruzar com um motorista embriagado e outras mil coisas ruins, podem alterar o futuro num piscar de olhos. Para alguns, é necessário viver uma tragédia para recolocar as coisas em sintonia com Deus.

Desde aquele dia, busquei um equilíbrio entre o trabalho e a minha vida. Compreendi que nenhum emprego, por mais gratificante que seja, compensa perder umas férias, romper um casamento ou passar um dia festivo longe da família. E aprendi que o mais importante da vida não é ganhar dinheiro, nem ascender socialmente, nem receber honras. O melhor da vida é ter tempo para a família e cultivar boas amizades.”

Pois é, como disse a cantora Joan Baez: “Você não pode escolher como ou quando vai morrer. Você só pode decidir como vai viver agora”. E para quem pensa que pouco pode ajudar, saiba que há muita gente que sente uma vontade louca de falar, de desabafar suas angústias interiores, e não encontra ninguém. Existe o tempo para falar e o tempo para escutar. Mostrar-se compreensivo e escutar com interesse de compreender e, talvez, até de  ajudar, expande as fronteiras de amor no coração.

Abrir a mente para ouvir o que os outros nos querem confidenciar pode ser a coisa mais importante do mundo para quem precisa desabafar. Quantas vezes os amigos consideram maravilhoso o nosso encontro com eles e a gente quase não falou! Só  os ouvimos com amor e atenção, como os bons amigos sabem ouvir. É o mínimo que podemos fazer, concorda?

“Há dois tipos de pessoas: as que fazem as coisas e as que ficam com os louros. Procure ficar no primeiro grupo, pois há menos competição nele” – Indira Gandhi, estadista.

 

 

 

 PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.



publicado por Luso-brasileiro às 11:48
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Julho 2024

Maio 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links