Dizem as boas línguas que a Primavera chegou, mas eu, sinceramente, acho que ela só deu uma passada e foi para outras paragens. Deixou apenas um rastro de flores e alguns dias de céu azul, mas desconfio que alguém lhe vez mal e ela resolveu dar um tempo. É possível que volte, contudo, para dar ares da sua graça e beleza e eu, confesso, estou ansiosa por isso.
Sei que é comum e até meio chato as pessoas reclamarem do tempo, a todo tempo, inclusive. Difícil satisfazer essa criatura estranha chamada ser humano. Creio que a Central de Reclamos de São Pedro deve ser uma das campeãs em atendimentos. Até desconfio que, depois de certo número delas, inclusive, o guardião das portas do Céu e Senhor do tempo (pelas informações que temos nós aqui embaixo) envie uma listinha negra ao moço que ocupa as profundezas, só para ir servindo de antecedente. Nunca se sabe...
Então, infelizmente, vou ter que engrossar a lista do SAC celeste e até correr o risco de ter meu nome enviado a inferiores instâncias, mas preciso desabafar: eu sou apaixonada pela Primavera e estou sentindo falta dela. Em seu lugar, deixou o irmão Frio, com o qual tenho minhas diferenças. Estou ciente de que ele tem seu glamour, que as pessoas ficam chiques (e congeladas) quando ele reina, mas eu sou um ser de sangue não totalmente quente, porque minhas extremidades ficam brincando de “roxinho” e eu sigo encolhida e sonolenta...
Assim, sem querer ensinar as coisas a São Pedro, humildemente venho pleitear, publicamente, que ele nos envie a Primavera, o céu azul e o chão florido, de manhãs frescas, tardes quentes e noites divinas. Não é à toa que dizemos que os aniversários são primaveras e que a primavera é a estação do amor. Aliás, nesses dias, quando ela nos brinda, o Amor se faz anunciar nos cantos dos pássaros e na beleza das pétalas que se abrem em colorido e acolhimento...
Por outro lado, eu estou ciente de que boa (ou toda) parte da culpa pela loucura e desregramento das estações é dos seres humanos, que com seus atos vão destruindo seu próprio lar. Tolas crianças do mundo, tem sempre a sensação de infinito, de que sempre sairão impunes e ilesos. Na verdade, já estamos pagando, e caro, por todo descaso, dolo e desleixo. A cada dia a vida perde alguns preciosos e insubstituíveis soldados. São animais e plantas que vão entrando em extinção e apagando seus rastros desse mundo.
Faço o que posso, contribuo positivamente no está ao meu alcance, mas sei que é pouco ou quase nada. Temo que a primavera também vá se despedindo de nós, deixando sua leveza para tempos esquecidos, tempos em que o mundo ainda desconhecia a fúria destruidora do bicho homem. Que Deus tenha misericórdia de nós e que a Primavera venha nos dar, ainda nesse ano, um beijo doce...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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