A Ana Beatriz, filha dos meus queridos Cíntia e Cláudio Gonçalves, chegou ao mundo no dia 23 de setembro, tempo de retorno das flores.
A Cíntia começou a trabalhar conosco, na Casa da Fonte, em março de 2012. Substituiu a Aline de Souza Barbieri, que iniciava sua carreira de professora de educação física. Cada uma de um jeito, mas as duas plenas de ternura.
A Aline nos oferecia os anseios meigos e, às vezes rebeldes, de jovenzinha e a Cíntia veio carregada de sonhos de mulher de 30 anos, plena de romantismo e valores definidos. Inseriu-se inteiramente no convívio com os que atuam e frequentam o espaço. Levou o povo da Casa da Fonte ao seu mundo e adentrou em nosso mundo individual.
No final de janeiro ou começo de fevereiro deste ano, a menininha deu sinal de que estava a caminho. O Cláudio, a Cíntia e nós todos aplaudimos. E a Ana Beatriz se fez presença nos relatos sobre suas marcas no corpo, no coração, na alma e nos olhos maternos com líquido amniótico. Engravidamos da alegria do casal. Com a maneira de se transbordar da Cíntia, acompanhamos, ainda, os mergulhos diários da filha em direção à superfície, para ser acolhida nos braços macios da mãe e vigorosos do pai. Assim que soubemos que ela acabara de nascer, a Ana Cristina Codarim Rodrigues, psicóloga do Grupo de Emoção da Casa da Fonte, exclamou de imediato: “Toda criança deveria ser aguardada com esse amor imenso”. Creio também nisso. Mas os desatinos do ser humano e as incontáveis situações de miséria tratam, tantas vezes, gente miúda como descartável ou incômodo.
Em meio a tantas despedidas, desde o ano passado, que me doeram e doem no coração, com saudade em carne viva e reencontro somente na Eternidade, a Ana Beatriz, no cotidiano dos últimos meses, disse de existência nova, de renascimento, de continuidade, de esperança. Nos comentários maternos, notava que Deus pulsava nos movimentos e nas batidas de coração da bebê. É Ele o Senhor da Vida verdadeira. E como escreveu Lya Luft: “Entendi que a vida não tece apenas uma teia de perdas, mas nos proporciona uma sucessão de ganhos. O equilíbrio da balança depende muito do que soubermos e quisermos enxergar”.
Fiquei pensando sobre quem não gerou uma criaturinha. Há aqueles que criam filhos nascidos pelo coração. É uma forma elevada de generosidade. Outros, por razões diversas, não experimentam a maternidade e a paternidade. Como vivenciar, portanto, o renascimento, a continuidade, a esperança, o pulsar de Deus em uma nova vida?
Toda pessoa que opta por um amor verdadeiro é fértil e concebe vida. Engravida da fé. Quantos filhos, meu Deus, deu à luz a Beata Madre Teresa de Calcutá!
Que a Ana Beatriz carregue, nas diferentes fases de sua história, o que escreveu Cecília Meireles: “Aprendi com a primavera: a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”. É a forma com que os seus pais, em plenitude, caminham: corpo, coração e alma.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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