“Um dia os homens conhecerão a alma dos animais e, nesse dia, um crime contra um animal, será um crime contra a humanidade”. Ao dizer esta frase, Leonardo da Vinci talvez não imaginasse que, passados quinhentos anos, a situação permaneceria quase a mesma. Para que ocorram as mudanças previstas, é necessária uma transformação cultural, e inspirados nos exemplos de São Francisco, cuja data se comemora amanhã, procuremos abraçar a causa dos animais, garantindo-lhes vida e respeito.
Comemora -se a 04 de outubro, o Dia dos Animais, data escolhida porque a Igreja Católica celebra o Dia de São Francisco de Assis, que amava demasiadamente a natureza, a ponto de chamar o Sol e a Lua de irmãos e enxergar, nos bichos, provas da bondade de Deus. Nascido num povoado italiano, filho de pai rico, muito cedo se entregou ao sacerdócio com tal desprendimento, que sua opção pelos pobres e pelo despojamento inspirou ordens religiosas. Deixou-nos um testemunho de liberdade que ainda ressoa como paradigma de futuro, tanto que o presépio, um dos enfeites natalinos mais tradicionais, também foi por ele criado. Na celebração de Natal de 1223, na aldeia de Greccio, havia uma gruta e ao lado de uma manjedoura repleta de feno, ele colocou um boi e um jumento recriando assim o ambiente de Belém. Quando as tochas clarearam as redondezas, todo o povo da vila se aproximou, motivando as representações esculpidas como as que conhecemos atualmente. De forma geral, até hoje esse extraordinário santo nos leva também a refletirmos sobre a importância dos animais, que concorrem com as espécies vegetais à manutenção do equilíbrio ecológico, indispensável à sobrevivência dos homens na Terra.
Infelizmente, muitas pessoas, desrespeitando não só aos ditames naturais, mas às leis especificas de preservação, promovem agressões gratuitas aos seres vivos organizados, dotados de sensibilidade e movimento. Segundo um levantamento feito pelo WWF – Fundo Mundial para a Natureza, o comércio ilegal de animais silvestres é o terceiro maior negócio ilícito do mundo e movimenta cerca de 10 bilhões de dólares por ano. Só o tráfico de drogas e armas é superior e depois do desmatamento que acaba com o habitat, constitui-se na principal ameaça à fauna brasileira já que, de cada dez animais retirados da natureza, nove morrem e milhões vão deixar de procriar.
Em Santa Catarina, no Brasil, apesar de o Supremo Tribunal Federal ter proibido o macabro festejo popular conhecido como “farra-do-boi”, ainda remanesce o mau costume celebrado na Páscoa, quando os bichos são expostos à fúria ritualística de uma turba de sádicos. Afrontando abertamente a Justiça, com o argumento de que o folclore local deve ser preservado, alguns municípios da região continuam a praticá-la, agora nos chamados mangueirões, locais cercados, geralmente em fazendas, sem risco de o boi escapar, onde a tortura acaba institucionalizada.
Esse e outros exemplos demonstram claramente que, apesar das vedações legais, a situação ainda é manifestamente grave. Por outro lado, proclamada pela UNESCO em sessão realizada em Bruxelas no dia 27 de janeiro de 1978, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, além de desconhecida, permanece desprezada, levando os homens a continuarem cometendo crimes. O que se espera agora é o que o mundo acorde para a causa destes seres vivos, distinguindo o uso do abuso e buscando outras formas de lazer que não às custas da dor alheia.
Sobre o poder dos animais e a título ilustrativo, transcrevemos texto de artigo publicado pelo jornal Diário Popular e assinado por Valéria Wagner, terapeuta floral e autora de diversos livros:- “Desde a mais remota época da humanidade, os povos se interrelacionam com eles, captando seus símbolos e aplicando-os em suas vidas pessoas. É incrível a força e a harmonia que os animais podem nos transmitir em muitos aspectos do dia-a-dia ou quando enfrentamos problemas pessoais e profissionais. Há sempre um deles capaz de nos ajudar a vislumbrar caminhos sadios. Utilizar sua agilidade, a paciência, a determinação, a alegria ou a lealdade, pode ser um instrumento poderoso para se viver melhor...” (Cad. de Empregos- 14.05.2000- p. 02).
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, professor universitário e escritor.
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