Em suma, a vida não é coisa que se leve a sério.
Esta é uma lição que estou custando a aprender. E pelo andar da carruagem... vai ficar para minha próxima estadia por aqui. Se houver.
Lá estou eu a falar sério de novo.
E como eu ia dizendo, como ser sério? Há um tom jocoso no ar.
A vida nos tira sarro 24 horas. Quem padece deste mal, é sempre colocado à prova.
Você leva a sério o trabalho e quem não leva fica de braços cruzados olhando você trabalhar por ele e por outros, e ainda tira uma com a sua cara.
Você leva a sério a política e... bobagem, isso é brincadeira desde que nasceu. Farsa, engodo, jogo de faz de conta.
Você leva a sério a amizade e uma avalanche de intempéries vão deflagrando que tudo não passou de ilusão.
Você leva a sério o amor, mas ele brinca de se esconder.
Você leva a sério o que fala e é motivo de chacota, pois a palavra de ordem é a piada.
Você leva a sério a palavra e descobre que ela está em fase de extinção, fazendo-o sentir-se um dinossauro abandonado e solitário.
Você leva a sério a felicidade e dá de cara com todos os argumentos que o fazem crer que ela nunca existiu.
Você leva a sério a humanidade e... ih, descobre que de humano há pouco na humanidade.
Não sei como administrar tanta falta de seriedade. Talvez seja um defeito que venha desde muito cedo. Adolescente, já gostava de brincadeiras sérias: pensar, conversar, debater, olhar no olho, ouvir música boa, cantar, escrever, ajudar o outro, conversar com o outro, exercitar o corpo e a mente, respeitar os mais velhos, porém ter senso crítico...
Tudo muito sério. Tão sério que serviu de base para algo concreto, mas que hoje tem pouca utilidade. Afinal, melhor seria ter sido oco, alienado, surdo, mudo, artificial, covarde, hipócrita, incompetente, intolerante, egoísta... Tudo isto, exercitado à época, não me custaria, hoje, o sacrifício de sobreviver num planeta estrangeiro, de sentimentos estrangeiros, de ausências conformadas, de solidões cavadas, de suicídios inconscientes, de fábrica de crentes, de sofredores descrentes, de adultos imaturamente juvenis, de jovens carentes de infância, de crianças necessitadas do essencial, de deuses absurdos...
Preciso me adequar à maioria e enxergar, enfim, piada em tudo. Caso contrário, serei enforcada, em breve, por minha incapacidade pragmática e fisiológica.
Renata Iacovino, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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