Por mais que eu tente não fazer, sempre que me dou conta estou escrevendo sobre alguma data comemorativa. Assim, comemorado nessa semana, o Dia do Professor me trouxe algumas reflexões.
Até onde me consta, do que conheço do histórico de minha família, uma de minhas bisavós maternas já era professora. Meus pais o são, bem como vários de meus tios. Eu mesma cresci acompanhando meus pais em várias aulas, e isso desde tenra idade, por vontade própria. Era meio óbvio que eu escolhesse esse caminho como parte da minha profissão.
Ainda que minha formação seja jurídica, acabei enveredando pelos rumos da docência, meio sem programar exatamente, embora intimamente convicta de que um dia eu chegaria lá. Assim, minha experiência na docência é muito boa de forma geral. Escrevo, hoje, em verdade, é para reflexão sobre a profissão de professor de um modo geral. O panorama na docência no ensino superior é diverso, em princípio, daquele do ensino médio e fundamental.
Não consigo entender, não racionalmente, as razões pelas quais o ensino público no Brasil se perdeu e deixou parte de sua qualidade de lado. Às vezes, muitas vezes na verdade, creio que não há verdadeiro interesse político em um povo educado, cioso de seus direitos e da forma de reivindicá-los.
Estudei grande parte de minha vida no ensino público e é sobretudo de lá que trago minhas raízes, minhas bases. Por certo eram outros tempos e a própria sociedade cultiva valores diversos, porém eu me ressinto e lamento pelas crianças e jovens que não terão direito a um ensino de qualidade. E grande parte disso decorre da desvalorização da carreira de professor.
O professor é a viga mestra de qualquer escola. É um sacerdócio, de fato, mas é necessário bem remunerar o professor. Em um país no qual os salários de políticos são estratosféricos, é, no mínimo curioso o fato dos salários dos professores não gozar das mesmas prerrogativas.
Sem um salário condigno, o professor não consegue se atualizar, não consegue reservar parte de seu tempo para o descanso necessário ao trabalho produtivo e prazeroso. Entre outras coisas, não se trata apenas de dinheiro, mas da valorização da profissão para que apenas pessoas vocacionadas a elejam como meio de vida.
O processo de resgate da dignidade da profissão de professor é um processo lento, longo e que demanda boa vontade de quem tem os meios para isso. Resta saber que espécie de povo e de país almejamos ser. É fato que há diversas experiências bem sucedidas, inclusive no ensino público, mas ainda não são em número suficiente para transformar, de modo sensível, a realidade nacional.
Pelo Dia do Professor, felicito àqueles que, todos os dias dão o melhor de si para que os outros possam aprender, para que o mundo se torne um lugar melhor de se viver, mesmo sem que recebam o melhor dos outros...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
OS MEUS LINKS