Em setembro, estive na Paróquia Cristo Redentor de Várzea Paulista para uma conversa com os catequistas que atuam junto a adolescentes na preparação para o Sacramento da Crisma. Gostei demais deles. O tema da reflexão foi a sexualidade nos planos de Deus.
No contato, há anos, com situações em que a sexualidade de meninas, meninos e mulheres é menosprezada pelo egocentrismo e perversão, creio sempre na importância de educar os sentidos e, como afirmava o filósofo Nietzsche, “A primeira tarefa da educação é ensinar a ver”.
Em um mundo tão conturbado, no qual o uso do corpo sem limites, para curtir a vida, para o prazer de imediato, para sensações excitantes, tornou-se senha para inclusão na sociedade deteriorada, é imprescindível mostrar aos adolescentes as consequências do prazer que move o corpo sem a sabedoria.
Tenho pena das jovenzinhas de carnes à mostra, transformadas em iscas para os instintos masculinos.
Em 26 de junho deste ano, o jornal “Diário de São Paulo” fez uma interessante matéria sobre o tratamento oferecido pelo Hospital das Clínicas para homens que sofrem compulsões sexuais. A maioria deles (72%), de acordo com pesquisa realizada durante três anos, possui doenças associadas, como transtorno de ansiedade generalizado e depressão. 45% faziam sexo com múltiplos parceiros. São também resultados da promiscuidade sexual: abuso sexual infanto-juvenil, infidelidade, depravações, violência e delitos sexuais, dependência da pornografia que é um hábito viciante devido à produção de hormônios que estimulam as partes responsáveis pelo prazer no cérebro, a falta de equilíbrio e controle sobre si mesmo, baixa autoestima, filhos abandonados, destruição da família, doenças sexualmente transmissíveis, decadência, turismo sexual, tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual, uso de drogas como artifício para lidar com o próprio corpo, frustrações, solidão, o individualismo relacionado ao “consumo de pessoas”, a perda da liberdade ao se tornar escravo do sexo, falta de sentimento e comprometimento, dentre outros.
O escritor e psicanalista Rubem Alves, em seu livro “Sobre Demônios e Pecados” que já citei em outra crônica, comenta sobre os tipos de olhares, que podem elevar ou destruir e embrutecer. Segundo ele, a luxúria é um jeito de olhar. Os olhos não se interessam por rostos, olhos, cabelos, mãos. Eles só veem uma coisa: os genitais. Com isso, tornam-se incapazes de amar, porque o amor nunca começa nos genitais. O amor começa no olhar.
O olhar precisa ser educado para que se perceba que a sexualidade não pode ser reduzida a instinto e que o amor exige autodomínio. O tratamento para compulsões sexuais confirma o que escrevo.
Sei que não é fácil - além das carências -, principalmente aos adolescentes e jovens da atualidade, nascidos em um tempo crescente de “ismos”: hedonismo, egoísmo, consumismo, se conter. Mas não é impossível. Os adultos devem dar exemplo. Os pais necessitam ser firmes com os filhos e ajudá-los a dizer “não” ao que corrompe. Devem ter claro que campanhas de prevenção à gravidez na adolescência e às doenças sexualmente transmissíveis não formam o caráter, não previnem efeitos nocivos sobre o espiritual, o psíquico, o emocional e o social. E façam prevalecer o seus valores, ideias e crenças, garantidas pelo artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
OS MEUS LINKS