A semana que ora se inicia tem um profundo significado, quer religioso, quer histórico, por que marca o final da trajetória de Jesus Cristo na Terra. A sua importância transcende os aspectos que os cristãos lhes outorgam: mesmo os ateus e àqueles que professam outras crenças reconhecem o valor daquele que morreu pregando os princípios da igualdade, da liberdade e da solidariedade que até hoje se revelam na base das três gerações dos Direitos Humanos.
A semana que se inicia com o Domingo de Ramos, para os cristãos, notadamente os católicos, é chamada de “santa”. E assim a designam em razão dos grandes acontecimentos da história e da própria Igreja relembrados neste período. A sua celebração, no entanto, se revela em ótima oportunidade para uma busca maior de conversão e mais que simples representação religiosa, os fatos que se revivem despertam nos homens, o significado divino de que vêm carregados, atualizando em cada um de nós, os sentidos de solidariedade, de fraternidade e de Justiça Social.
Infelizmente, vale reiterar, muitas pessoas transformam esses dias em simples feriadão, numa espécie de pequeno veraneio e, até, em tempo de mera diversão ou coisa semelhante, afastando-se de seu real sentido. Nesta trilha, invoquemos D. Geraldo Majella:- “Na atmosfera atarefada na qual vivemos, em nosso ambiente secularizado e laicista, a grande Hora de Cristo, a sua doação de Amor sem reserva, essas realidades que mudaram não a face do mundo, mas o valor de nossa alma e sua perspectiva de vida correm o risco de serem desperdiçadas como uma espécie de fim de semana prolongado, como um tempo para não pensar, quando devia ser um tempo de pensar e, se possível, um tempo de rezar” (“A Tarde- Bh.- pág. 02- 16/04/2000).
Com efeito, a Semana Santa se constitui num privilegiado tempo de encontro com Deus; época de pararmos e fazermos uma revisão de vida, de aprofundarmos a nossa vivência pessoal e compará-la à própria trajetória de Cristo; e momento de destacarmos o ato supremo de Amor. Seus ritos cheios de beleza, de encantamento litúrgico e de mistério, são celebrativos de ocorrências que têm muito a ver com as esperanças e angústias dos dias atuais.
Desta forma, deveríamos nos focar nas mensagens que se podem e devem extrair desse período, no qual são recordados os sofrimentos, os constrangimentos e principalmente as injustiças impostas a alguém que só pregou o bem, a ordem social e principalmente o respeito ao próximo, fazendo-nos crer que ainda hoje, as pessoas bem intencionadas, éticas e idealistas são vítimas de constantes de agressões e ofensas semelhantes, pois prevalece uma manifesta inversão de valores. No entanto, o enfrentamento também caracteriza àqueles que se dispõe a lutar pelo respeito irrestrito à dignidade da pessoa humana.
Com efeito, numa sociedade cada vez mais individualista, onde o consumo parece ditar todas as normas, necessitamos de momentos de coragem para tentarmos mudar o sórdido quadro que prevalece, a partir de uma consciente participação comunitária e de uma renovação nas nossas formas cristãs de viver, convencidos de que o cristianismo é sinônimo de comprometimento humilde com o exercício do serviço fraterno, buscando construir uma sociedade justa e solidária.
Citemos, a título de meditação, trechos do documento “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, editado em setembro de 1999 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante uma ação evangelizadora:- “A sociedade concreta em que vivemos, em nosso país e em grande parte do mundo, está marcada pelas desigualdades, egoísmo e injustiças”. – “O empenho consciente do trabalho social da Igreja levará a questionar e lutar por transformar as estruturas e as decisões políticas e também contra o absolutismo da economia de mercado que sobrepõe às outras dimensões da vida humana e gera a exclusão daqueles que não são economicamente úteis”. – “Defende-se uma ‘nova evangelização’ para superar os limites históricos do nosso cristianismo por um empenho mais profundo na articulação entre a fé e vida; pela superação do mais devastador e humilhante flagelo da miséria extrema a que são submetidos milhões de brasileiros, atingidos por diversas formas de exclusão social, étnica e cultural através da promoção da justiça e da libertação integral”.
Num ano em que a própria Campanha da Fraternidade prega a prevalência das questões sociais sobre as financeiras, nada mais sereno do que priorizar as coisas do espírito em detrimento das materiais, valorizando os princípios da igualdade, da liberdade e da solidariedade, que embasam as gerações dos Direitos Humanos em geral.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário
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