Sempre ouvi dizer que a Educação é o único caminho para a evolução de uma sociedade. Com o passar do tempo, acumulando experiências pessoais e profissionais, essencialmente na área acadêmica, isso se tornou quase um mantra para mim. É notório o poder transformador da educação. A educação liberta, abre horizontes, amplia as possibilidades e, acima de tudo, lapida o ser humano.
Creio ser importante deixar claro que, ao falar de educação, não estou me referindo somente à formal, mas também àquela que se aprende em casa, que se herda da família. Seria “chover no molhado” e, no mínimo injusto, alegar que só gente sem estudo é responsável pelas mazelas do mundo. Em meu sentir, ao contrário, infelizmente, alguns dos maiores lesadores da humanidade eram pessoas instruídas, cultas e, inclusive, isso é que tornou os seus atos mais dignos de recriminação.
O que penso, contudo, é que, ao menos no nosso país, porque esse é o meio no qual estou inserida, as pessoas padecem da falta de educação, de educação para a vida. Alguma coisa está muito errada, muito fora de lugar.
Talvez, no fundo, eu esteja fora de moda. Talvez, por outro lado, eu é que esteja equivocada, fora de lugar. Não sei... Fico, contudo, questionando alguns comportamentos que vejo e não os consigo explicar.
Dia desses, peguei um táxi e vi que a motorista já era conhecida minha de “outras corridas”. Logo, ela, que também me reconheceu, começou a puxar papo e me perguntou se eu havia visto que uma árvore caíra sobre um rapaz que fazia corrida em uma avenida da cidade. Antes mesmo que eu respondesse, ela seguiu dizendo que, não era contra as árvores, que achava ótimo que elas existissem, mas que deveriam ficar em parques, tão somente. Lá, de fato, seria o lugar apropriado. Nas ruas, de outra feita, só mesmo teríamos calçadas e asfalto. Confesso que fiquei sem saber o que responder.
É óbvio que me sensibilizei com o acidente que, inclusive, retirou a vida do homem. Também me perguntei se a árvore estava em condições adequadas ou se fora atingida por um raio, algo imprevisto e inevitável. Imaginei a dor da família e em quanto era lastimável que uma vida se perdesse assim, mas não pude deixar de ficar chocada com a idéia que a mulher tem de meio ambiente.
Em um momento no qual as escolhas ambientais que fizermos poderão ser definitivas para a questão de nossa sobrevivência enquanto espécie, em um momento no qual a natureza revela toda sua força e revolta, com temperaturas extremas e desastres naturais de grandes proporções, como é que alguém pode imaginar a hipótese de que as árvores deveriam apenas se restringir a parques, como se fossem algo a ser somente admirado nos fins de semana? Será que mais pessoas pensam dessa forma? Para mim, quiçá no ápice da minha ignorância, se algo está no lugar errado, por certo não são as árvores...
Daí eu penso que isso mais reflete a falta de educação, de uma educação ambiental, por exemplo, do que a qualquer adjetivo que se pensasse em atribuir à motorista em questão. Ao que me consta, ela é uma pessoa trabalhadora, boa, cumpridora dos seus deveres. Não me incomoda saber o que ela pensa, até porque isso é direito dela, mas somente se muitos mais compartilham esse tipo de idéia.
Os seres humanos me importam e muito, até porque, sendo parte da humanidade, nem poderia pensar diferente, mas o descaso, a ignorância quanto ao mundo em que vivemos, em relação a todos os seres que nele habitam, acredito, será nossa condenação...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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