Sempre que escuto a frase que usei, em empréstimo, para esse texto, a primeira lembrança que me ocorre é a do filme homônimo. Em linhas gerais, a história real de um pai e um filho pequeno que, juntos, passam por péssimos bocados antes de chegarem até um ponto onde a tão buscada felicidade pudesse ser tocada, saboreada.
Fico, assim, pensando se de fato a felicidade é um porto de chegada ou de partida. A gente busca a felicidade para lá se aninhar, para lá ficar, ou para de lá partir, para ser mais feliz, mais pleno de vida, de satisfações?
Quando eu era criança, amava as estórias de fadas, dos mundos encantados nos quais, fosse como fosse, passasse a princesa pelas agruras mais terríveis, pelos monstros mais apavorantes, no fim, tudo sempre acabava bem, ficando todos, à exceção dos maus, felizes para sempre.
Ao conhecer o mundo dos adultos, não pude deixar de me sentir assim, digamos, ligeiramente enganada. Não precisou muito para eu constatar que o tal final feliz é uma grande de uma lorota. Não que não exista felicidade, não é isso. Não sou uma pessimista ou uma desiludida da vida, nada disso. Ao contrário, acredito na felicidade, mas não acredito é em finais. A felicidade não é um porto de chegada, mas só uma parada, às vezes breve. Nada impede que lá se volte várias vezes, mas lá não se admite moradores, só hóspedes.
Não vou entrar aqui em questões da felicidade como um Nirvana, como algo a ser esperado em outra vida, outro plano, sei lá. Para isso me falta não só conhecimento, mas convicção para discutir. Questiono é a felicidade terrena, aquela musa que desejamos conhecer, explorar, desbravar e aprisionar.
Muita gente passa a vida toda em uma procura incessante, perseverante, no intuito de alcançar a felicidade, como se ela fosse algo que, em velocidade superior, sempre estivesse à frente, quase inatingível. Agem como se o percurso nada representasse, como se a estrada para a felicidade já não fosse uma espécie de preliminar, de preparação. Desperdiçam, assim, o prazer pelas pequenas e sutis coisas, a alegria de simplesmente ser.
È claro que algumas vidas são vitimadas por tantas desgraças, por tantos problemas, que parece impossível, quase utópica, a idéia de que possam ser, apesar disso tudo, felizes. Curiosamente, boa parte das pessoas mais lucidamente felizes que conheci, foram pessoas sofridas. Pessoas que tinham tudo para desprezar o mínimo, para ignorar o pouco, mas que encontraram nas sutilezas, razões maiores para viver.
Não acredito, portanto que a vida contemple finais felizes. Há pessoas mais felizes do que outras, isso é verdade, mas desconfio que as mais felizes entenderam o que as menos felizes ainda não foram capazes. Estou, assim, convicta, de que a luz no fim do túnel não é o final, mas sim o começo. A vida nos proporciona oásis, ilhas de conforto, momentos de plena satisfação, mas sempre haverá pedra a ser retirada, obstáculo a ser vencido, perdas a superar.
Como a maioria das pessoas, desejo a felicidade, porém não aquela que sobrevenha no fim tão somente. Quero ser capaz da alegria no que é ordinário, no que é cotidiano. Não quero viver à procura da felicidade, como se tudo o mais não fizesse sentido. Não quero abreviar o meu caminho, esquecendo-me da delicadeza da viagem. Sobretudo, que eu possa, em cada parada, reconhecer a felicidade de cada hora.
Pior do que ser infeliz, creio, é não se saber feliz...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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