Deus abriu a vida, para descendência, na família humana da qual faço parte, em junho de 2007. Concedeu uma linhagem que não passou pelo sangue, mas veio através do coração dEle. Creio demais nisso! A descendência que o Senhor nos ofereceu, e que poderia ser ou não aceita pela minha cunhada e pelo meu irmão, nasceu da inspiração do Criador na alma dos dois.
Essa é uma história que se entrelaça com a minha e me emociona, pois os filhos de meu irmão são meus sobrinhos. Os rebentos de meu irmão e minha cunhada, unidos a mim por laços próximos, um é filho da exclusão e a outra, quando dava os primeiros passos, teve seus direitos desrespeitados e se tornou excluída. Não julgo os pais de nenhum deles, lamento, porém, por não conviverem com os filhos que geraram por situação de pobreza material, moral, emocional ou espiritual. E quantos pais se fazem somente fantasmas na vida de seus filhos, acompanhando-os como espectros. E quantos pais, de poder aquisitivo maior ou menor, fazem de sua maternidade e paternidade pantomima. Sabemos pouco sobre como nossas crianças foram concebidas. Do primeiro, disseram que a mãe era migrante em busca da realização da esperança em São Paulo. Dias melhores para ela e para os filhos que devem ter ficado com parentes próximos. Não deu certo. Respeitou, contudo, a vida do pequenino que a acompanhara em suas entranhas na viagem ou se fizera presença em território estranho. Deu-lhe um nome, nome de apóstolo. Esteve com ele poucos dias e o deixou no hospital para ser embalado em outros colos. Deve ser de resistente nos sofrimentos, mas tenho certeza de que chorou interiormente. O menino que confiou a Deus e Ele à minha cunhada e meu irmão, como também ao nosso coração, é de contentamento e sentimentos bons. Um dia desses, minha amiga Miralice Maria Moreira comentou, quando lhe falava sobre a felicidade que o menino demonstra ter, que, por certo, a mãe não o rejeitou e pôs, no coração dele, a alegria de viver. Achei tão bonito o que ela concluiu e penso que seja exatamente assim. A menina chegou faz menos de um mês. Três meses apenas de diferença de idade do nosso menino. Percebe-se que ela carrega, ainda, dos desencontros da família natural, que lhe marcaram o corpo com hematomas, e do estado de transição no abrigo, onde deve ter ficado por uns dois anos, algumas dores que o amor curará.
Essa história, que Deus faz conosco, por razões que não compreendemos, mas que sem dúvida são para o nosso bem, pois pertencem à Sabedoria dEle, fazem-me recordar a esterilidade de Sara, de Isabel de Zacarias, até que lhes chegou, através do Anjo, a boa notícia. Deduzo que nenhuma pessoa é infecunda se abrir os ouvidos para o anúncio dos enviados de Deus. Somos todos capazes, pela misericórdia do Senhor, de uma geração iluminada e mais numerosa que as estrelas do céu.
Não foi possível ao nosso menino e à nossa menina um berço do próprio sangue, por isso os acalentamos, por um desígnio amoroso do Pai, no côncavo de nossa alma.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola
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