PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quinta-feira, 8 de Dezembro de 2022
ALEXANDRE ZABOT - ERROS E PERIGOS DA ASTROLOGIA

 

 

 

 

 

 

Alexandre Zabot

 

 

 

 

 
A maioria das pessoas conhece a Astrologia através dos horóscopos publicados nos jornais. Muita gente lê e acredita nas previsões que são feitas, alguns inclusive seguem as sugestões dadas pelos astrólogos. Mas será que já se perguntaram no que se fundamentam estas previsões? Há base científica? Ou ainda, lembrando que nem tudo pode ser explicado pela ciência, há base racional para a Astrologia? E, fora estas questões, é lícito (ou, ao menos, convém) a um católico recorrer às previsões astrológicas? São questões relevantes, que precisam ser analisadas atentamente e respondidas com precisão. Além do mais, quando se procura entender as origens e as relações da Astrologia com o mundo atual, percebe-se claramente que hoje ela está muito ligada aos movimentos conhecidos por “New Age” ou, Nova Era. No que consiste esta tal de Nova Era?
A New Age (Nova Era) é, segundo os místicos e astrólogos, o advento da Era de Aquário. Para eles, estamos no final da Era de Peixes, dominada pelo pensamento cristão repressivo, retrógrado e preconceituoso. O próximo Eon (ou Era), será o fim da dominação cristã e o início de um tempo de luz, tecnologia e paz. Como disse, a filosofia da Nova Era está intimamente ligada à Astrologia e esta, por sua vez, usa uma roupagem falsa de ciência quando utilizada (erroneamente) conceitos da Astronomia.
Tanto a Astrologia quanto a noção de Eras estão relacionadas com os movimentos da Terra. Basicamente a Terra possui três movimentos principais. O primeiro é o de rotação em torno do próprio eixo, que dura aproximadamente 24 horas e determina os dias e as noites. O segundo movimento é o de translação em torno do Sol, que dura um pouco mais que 365 dias. Ele determina quais partes do céu estão visíveis a noite pois, se no movimento da Terra o Sol fica na frente de alguma parte do céu, não podemos vê-la. Temos que esperar alguns meses para estarmos num outro ponto da órbita. Desta forma, falamos de “céu de inverno” e “céu de verão”, por exemplo. Quem gosta de espiar o céu sabe: as três Marias aparecem bem no verão e o Escorpião no inverno. O terceiro movimento é o de Precessão. É o mesmo movimento executado por um pião quando está próximo de parar. É uma pequena oscilação do eixo de rotação.
Portanto, os movimentos da Terra determinam que partes do céu podemos ver em cada época do ano e em cada momento do dia e da noite. Para demarcar o céu e as estações do ano, os astrônomos dividiram ele em regiões. São as constelações. As estrelas de uma mesma constelação não precisam estar ligadas entre si. É apenas uma divisão aparente do céu, para facilitar a localização das estrelas. Atualmente, a União Astronômica Internacional divide o céu em 88 constelações, de tamanhos diversos.
Durante o ano o Sol passa na frente de 13 constelações. São as constelações do Zodíaco. Tenho certeza que você conhece, pelo menos, 12 delas. São os signos, Áries, Peixes, Touro, Escorpião, etc. Não há nada de especial com elas, exceto que o Sol passa pela sua frente. Os astrólogos dizem que seu signo é Peixes, por exemplo, porque o Sol estaria na frente de Peixes de fevereiro a março. Usei este tempo verbal, porque, de fato, o Sol não está na frente de Peixes durante o período que eles falam. É que eles não fazem observações, e também não sabem fazer contas, e parece que não tem vergonha disso.
A Terra gira um pouco inclinada em torno do Sol, por isso ele cruza em março e setembro, o equador celeste, uma linha imaginária que divide o céu em duas calotas, uma norte e outra sul. O ponto exato em que o Sol cruza este equador em março chama-se Ponto de Áries. Hoje, este ponto está sobre a constelação de Peixes, não de Áries. Ele mudou (e continua mudando) de posição por causa do terceiro movimento que citei, da Precessão dos Equinócios. Este movimento tem um período de 25800 anos. Neste tempo, o Ponto de Áries passa por alguns milênios sobre algumas constelações. É daí que os astrólogos tiram a estória das Eras. De Áries este ponto passou para Peixes (agora) e por volta de 2600 estará na constelação de Aquário.
Mas se os astrólogos não sabem nem quando o Sol está de verdade na frente de uma constelação, imagina calcular em que época o Ponto de Áries estará sobre a constelação de Aquário! Alguns dizem que já ocorreu na década de 60, outros que será neste ano e os mais precavidos põem a data mais além. Nenhum deles, porém, consulta uma tabela astronômica.
Do ponto de vista filosófico a Astrologia se baseia na ideia de que existem tempos propícios para determinadas atividades e que estudando os ciclos da natureza através dos movimentos celestes podemos conhecer e até prever estes momentos mais favoráveis e usar isto para nosso bem. Como escrevi antes, os astrólogos usam alguns conceitos de astronomia de modo completamente errado e por isso não sabem calcular os “ciclos da natureza”. Independente disso, muitos acham que mesmo assim a filosofia por trás da astrologia faz sentido, pois somos parte integrante de uma natureza muito ampla e estamos integrados a ela. Aí é que a astrologia tem se confundido nos dias atuais com os movimentos Nova Era.
A Astrologia é condenada pela doutrina católica por que é uma forma de adivinhação que se presta a tentar usar poderes ocultos da natureza, lê-se no parágrafo 2116 do Catecismo da Igreja Católica que: “Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas (…). A consulta aos horóscopos, a astrologia, (…) escondem uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus”. O Catecismo enfatiza ainda mais no parágrafo 2117 que “mesmo que seja para proporcionar a este [o próximo] saúde, são gravemente contrárias à virtude da religião”.
Diversos cientistas já provaram que a Astrologia não funciona, que suas previsões não se tornam realidade e que mesmo que não sejam feitas previsões, o uso dos “tempos propícios” não favorece quem os identifica. Cientificamente dizemos que não há relevância estatística, é um atestado de que não existem estes tempos ou então que, caso existam, não faz diferença conhecê-los, pois não muda nada. Do ponto de vista científico a Astrologia é uma perda de tempo pois é bobagem, do ponto de vista da fé ela é um grave perigo pois nos afasta de Deus, conforme explica o Catecismo. A Astrologia é, portanto, errada e perigosa. Meu signo é a cruz.

08/2011
 
 
 
 

ALEXANDRE ZABOT   -    Fisico. Doutorado em Astrofisica. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina.   www.alexandrezabot.blogspot.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 15:01
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