No dia 31 de Dezembro, último dia do ano, celebra-se em todo o mundo a noite de São Silvestre, com diversas manifestações de alegria, concretizadas pelas “corridas de São Silvestre” pelas “reuniões de famílias que trocam as passas” , pelas “largadas de fogo de artifício” pelas “celebrações religiosas de acção de graças com a celebração do”Te Deum” e muitas outras iniciativas para assinalar a passagem de um ano velho e desejar um novo ano, mais feliz que o anterior.
Essa noite é chamada a noite de São Silvestre.
Mas qual é a influência de São Silvestre nas celebrações do dia 31 de Dezembro?
São Silvestre tem também uma relação com a Ilha da Madeira, chamada a Pérola do Atlântico, conforme reza uma lenda que vem inserida neste trabalho.
Mas quem foi São Silvestre?
São Silvestre encerra o ano civil. Ele encerra também, na história da Igreja, uma época importante e inicia uma nova era. Durante três séculos a Igreja Cristã esteve exposta às mais cruéis perseguições.
O império romano empregava todo o seu poder para aniquilar a Igreja Cristã. A astúcia, a lisonja, as seduções, tudo quanto podia cegar os sentidos, tudo o que a arte e a ciência terrenas podiam proporcionar estava ao serviço deste luta. Mas a Igreja resistia a todos a toas as perseguições.. Os seus membros morriam aqui e ali, mas a Igreja continuava a viver, e cada vez mais, novos elementos nela entravam. Por fim o império romano curvou-se diante de Cristo, colocou a cruz sobre o seu diadema e o sinal de Cristo sobre a águia de suas legiões. Cristo tinha vencido na possante peleja, e o Papa Silvestre I viu como tudo mudava. Viu o suplício da cruz ser abolido. Viu o próprio imperador Constantino edificar o palácio(Lateranense), que durante muitos séculos foi a residência do Vigário de Cristo.
Era este o cenário do tempo do Papa São Silvestre.
Segundo o testemunho de historiadores fidedignos, Silvestre nasceu em Roma no ano 285.Era filho de pais cristãos, que bem cedo o confiaram aos cuidados do sacerdote Cirino, cujo preparo intelectual e exemplo de vida santa fizeram com que o discípulo Silvestre adquirisse uma formação extraordinariamente sólida e cristã. Estava ainda em preparação última, isto é, a décima e de todas as mais bárbaras das perseguições dioclecianas, quando Silvestre, das mãos do Papa Marcelino, recebeu as ordens sacerdotais. Teve, pois, ocasião de presenciar os horrores deste investida contra o Reino de Cristo. Foi testemunha ocular do heroísmo das pobres vítimas do furor desmedido do tirano coroado.
No ano 313 foi celebrado o Edito de Milão, no qual se definia dar a paz não só à Igreja Cristã mas também aos outros cultos. Ficou estabelecido que seriam devolvidos aos cristãos seus antigos locais de reunião e de culto, assim como as propriedades que haviam sido confiscadas pelas autoridades romanas e vendidas a particulares na última perseguição..
No ano 314, por voto unânime do povo e do clero, Silvestre foi proposto para ocupar a cadeira de São Pedro, como sucessor do Papa Melquíades.
Mas a paz foi de pouca duração.
Duas terríveis heresias se levantaram contra a Igreja., arrastando-a para uma luta gigantesca de quase um século de duração. Foi a dos Donatistas, que tomou grande
incremento na África. A Igreja, ensinavam eles, deve compor-se só de justos, pois no momento em que seu grémio tolera pecadores, deixa de ser a Igreja de Cristo. Ensinavam que o baptismo administrado por um sacerdote em estado de pecado, era inválido. Se um bispo estivesse com um pecado na alma, não podia crismar nem ordenar sacerdotes. Caso administrassem esses sacramentos, seriam inválidos.
Pior e mais perigosa foi a outra heresia, propalada pelo sacerdote Ario, da Igreja de Antioquia. Doutrinava ele que a Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, faltavam as atribuições divinas, isto é, não era consubstancial ao Pai, portanto não era Deus, mas mera criatura, de essência diversa da do Pai e de natureza mutável.
Tanto contra a primeira como contra a segunda, o Papa Silvestre tomou enérgica atitude. A doutrina dos Donatistas foi condenada no Concílio de Arles. A segunda heresia(Arianismo) teve a sua condenação no célebre Concílio de Niceia(325) ao qual compareceram 317 bispos. O Papa Silvestre, já muito idoso, pessoalmente não podendo comparecer à grande Assembleia, fez-se nela representar por dois sacerdotes de sua inteira confiança, que em seu lugar presidiram as sessões. Estas terminaram com a soleníssima proclamação dogmática da fórmula: “ O Filho é consubstancial ao Pai;é Deus de Deus; Deus verdadeiro; gerado, feito da mesma substância com o Pai”.
As resoluções do Concílio foram assinadas pelo Papa Silvestre. Na presença de 272 bispos foram as mesmas confirmadas em Roma. Esta cerimónia teve lugar diante da imagem de Nossa Senhora da Alegria, cujo altar, em sinal de gratidão a Maria Santíssima. o Papa mandara erigir logo que as perseguições tinham chegado ao seu termo.
Durante o seu Pontificado, o Papa Silvestre governou a Igreja de Deus dando sobejas provas de prudência e sabedoria, glorificando-a com as virtudes de uma vida santa e apostólica.
Natural de Roma, São Silvestre I foi papa e governou a Igreja de 314 a 355 d.C., ano em que morreu no dia 31 de Dezembro com 70 anos de idade. Sepultado no cemitério de Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I(757-767) para a Igreja erguida em sua memória. São Silvério foi o 33º. Papa da Igreja.
A Igreja escolheu esta data para canonizá-lo.
Por ser um santo muito popular, São Silvestre ficou ligado às corridas.
A corrida é um acto que pode ter dois significados: Um, é atitude de uma pessoa correr para se livrar de situações de perigo, de ameaça e de sofrimento. Outro, é atitude de uma pessoa correr para alcançar um objectivo positivo, de alegria, de paz e de amor, mais rapidamente.
Daí nasceu a corrida de São Silvestre, no dia 31 de Dezembro, como despedida do ano civil.
Numa Viagem à França em 1924 Cásper Líbero assistiu a uma corrida nocturna em que os corredores carregavam tochas de fogo. Entusiasmado, resolveu promover, naquele mesmo ano, algo semelhante em S. Paulo(Brasil).Assim, à meia-noite de 31 de Dezembro daquele ano foi instituída a “Corrida de São Silvestre” que reunia os atletas da cidade e ganhou o nome de São Silvestre por ser esse o nome do santo do dia.
A prova passou, em mais de 70 anos consecutivos de realização, por inúmeras transformações e cresceu: dos apenas 60 participantes da primeira edição, para mais de 10 mil inscrições nos últimos anos, incluindo a presença das maiores expressões do atletismo mundial. A corrida de “São Silvestre” tornou-se internacional a partir de 1945, quando abriu espaço aos atletas de todas as partes do mundo. Quando a ONU instituiu o Ano Internacional da Mulher, em 1975, a competição passou a incluir a participação das mulheres.
Este acontecimento foi adoptado por todo o mundo, chegando a Portugal, incluindo à Ilha da Madeira.
Na Madeira, também, se faz a corrida de São Silvestre há vários anos. Por razões logísticas e para que as pessoas possam assistir à passagem do ano e assistirem ao fogo de artifício no dia 31 de Dezembro, a corrida é realizada uns dias antes do dia 31 de Dezembro, mas tem o mesmo significado . Neste ano realiza-se no dia 28 de Dezembro, sendo a 64ª. edição, estando inscritas mais de 3.000 pessoas. É uma iniciativa que tem vindo atrair à região inúmeros atletas do panorama nacional e internacional, enchendo a capital madeirense de muita animação.
Mas, a ligação de São Silvestre com a Ilha da Madeira tem um significado muito mais importante.
Como foi referido, anteriormente, o Papa São Silvestre assinou em 325, as resoluções do Concílio de Niceia, diante da Imagem de Nossa senhora. São Silvestre tinha uma grande devoção a Nossa Senhora. E, Nossa Senhora concedeu-lhe a graça de ter a seguinte visão:
Reza a lenda que, na última noite do ano, no dia 31 de Dezembro, estando a Virgem Maria debruçada dos céus sobre o Oceano, São Silvestre veio ao seu encontro e falar-lhe. Nossa Senhora confiou-lhe a razão da sua tristeza: lembrava-se da bela Atlântida, afundada por Deus por castigo dos seus habitantes.
Enquanto falava, Nossa Senhora deixava cair lágrimas de tristeza e de misericórdia. São Silvestre reparou então que as suas lágrimas não eram lágrimas mas pérolas autênticas.
Uma dessas lágrimas foi cair no local originário da extraordinária Atlântida, dando origem à Ilha da Madeira que ficou conhecida como a Pérola do Atlântico.
Dizem os antigos que, durante muito tempo, na noite de S. Silvestre, quando batiam as doze badaladas, surgia no céu uma visão de luz e cores fantásticas que deixavam no ar um perfume estonteante.
Com o passar dos anos essa visão desapareceu, mas o povo encontrou forma de a manter, através do fogo-de-artifício das famosas Festas de Fim de Ano que enaltecem as celebrações da Noite de S. Silvestre.
Este hábito de passar a noite de 31 de Dezembro, como a última noite do ano, com o lançamento de fogo de artifício, foi-se espalhando em todo o mundo, assinalando a viragem de uma página e o início de uma outra , onde vão ser escritos os momentos mais importantes da vida de cada um nós. Feliz Ano Novo!
Oração a São Silvestre
Deus, nosso Pai, hoje é o último dia do ano.
Nós vos agradecemos todas as graças que nos concedestes através dos vossos santos.
Hoje pedimos a São Silvestre que interceda a vós por nós!
Perdoai as nossas faltas, o nosso pecado e dai-nos a graça da contínua conversão.
Renovai as nossas esperanças, fortalecei a nossa fé.
Abri a nossa mente e os nossos corações.
Não nos deixeis acomodar em nossas posições conquistadas, mas, como povo peregrino, caminhemos sem cessar rumo aos Novos Céus e à Nova Terra a nós prometidos.Senhor, Deus nosso Pai, que o Vosso Espírito Santo, o Dom de Jesus Ressuscitado, nos mova e nos faça clamar hoje e sempre.
Venha a nós o vosso Reino de paz e de justiça.
Renovai a face da Terra, criai no homem um coração novo! Ámen!
ANTÓNIO FRANCISCO GONÇALVES SIMÕES - Sacerdote Católico. Coronel Capelão das Frorças Armadas Portuguesas. Funchal, Madeira. - Email goncalves.simoes@sapo.pt
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"Um Mundo Melhor!... Começa por Nós..." é um livro de homenagem aos capelães militares que frequentaram o curso de capelães no ano de 1972, na Academia Militar de Lisboa.
Inclui além de pequena biografia dos presbíteros participantes, temas de interesse cultural e espiritual.Prefácio de Manuel Gama.
Pré-impressão - Paulinas Editora
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