Passei algumas semanas “de férias”, sem escrever esta coluna, mergulhado nos intermináveis acabamentos da minha tese de doutorado. Durante essas semanas, acontecimentos extremamente importantes se passaram no Brasil. Refiro-me à propalada “greve dos caminhoneiros” e ao quadro geral dentro do qual se inseriu essa greve. A situação é preocupante. De crise em crise, o Brasil republicano cada vez mais parece se aproximar de um desfecho que pode ser calamitoso.
Não é de boa norma para um jornalista, mormente quando está retornando de férias, usar o espaço de sua coluna para transcrever textos de outros autores. Isso é feio, dá a impressão de que lhe faltou assunto ou, pior ainda, faltou vontade de trabalhar e sobrou preguiça...
Mas não resisto a usar o espaço desta coluna para, mais uma vez, publicar um texto antológico e verdadeiramente luminoso de nosso bom Amigo o Poeta Paulo Bomfim. Digo “nosso” porque Paulo, um jovem paulista de 91 anos de idade, não só é meu amigo muito querido, mas também o é de Evaldo Vicente, o prestimoso proprietário, diretor, dinamizador e quase fac-totum de “A Tribuna Piracicabana”.
O texto foi escrito pelo Poeta de São Paulo há muitos anos, mas conserva atualidade impressionante. Chama-se “Advertência”. Aí vai ele:
“Advertência
“Ai daqueles que brincam com a esperança do povo!
“Ai daqueles que se banqueteiam junto à fome de seus irmãos!
“Ai daqueles que são fúteis numa hora grave, indiferentes num momento definitivo!
“Ai daqueles que corrompem para tirar proveito da corrupção, que envenenam o mundo pela volúpia de caminhar impunemente entre ruínas!
“Ai daqueles que fazem da mentira a verdade de suas vidas!
“Ai daqueles que usam os simples como degraus de sua vaidade e instrumentos de sua ambição!
“Ai daqueles que fabricam com a violência a trama do medo!
“Ai daqueles que roubam ao próximo a alegria de existir!
“Ai daqueles que usam o dinheiro e o poder para prostituir, humilhar e deformar!
“Ai daqueles que se atordoam para fugir das próprias responsabilidades!
“Ai daqueles que traficam a terra de seus mortos, enxovalham tradições e traem compromissos com o presente e com o futuro!
“Ai daqueles que se fazem de fracos no instante de tempestade!
“Ai daqueles que se acomodam a tudo, que se resignam a tudo, que se entregam sem lutar!
“Ai daqueles que loteiam seus corações, alugam suas consciências, transacionam com a honra, especulam com o bem, açambarcam a felicidade alheia e erguem virtudes falsas sobre os pântanos!
“Ai daqueles que concordam em morrer vivos!”
Até aqui, as inspiradas palavras do nosso Poeta maior. Não precisam de qualquer comentário. Só precisam ser lidas, meditadas e, sobretudo, tomadas a sério.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
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