Desde que me conheço por gente, sempre tive certeza de que, quando crescesse, seria escritor. Já na escola primária eu sabia que nasci para escrever, e que só sobreviveria cumprindo suada e esforçadamente os requisitos que o Ministério da Fazenda exige para se poder pagar Imposto de Renda na categoria "Profissional das Letras"...
Essa vocação sempre foi clara para mim, nunca tive a menor hesitação a respeito. Confesso que tenho muita dificuldade para compreender certos jovens que, às vésperas do vestibular, se põem a procurar critérios para a escolha de uma carreira, ou de uma área de atividades.
Ainda não sabem se serão médicos, advogados, engenheiros, matemáticos, artistas ou professores de educação física...
Põem-se então ansiosamente à procura de psicólogos, ou a fazer testes vocacionais para descobrir seu caminho na vida. Ou então, de modo menos nobre, se põem a pesquisar, nos jornais, qual é a relação candidato/vaga nos vestibulares de cada curso. Optarão mediocremente pelo que ofereça maiores chances de sucesso, seja ele qual for...
Às vezes ocorre que depois de várias tentativas frustadas de ingressarem em cursos "prestigiosos" como os de Medicina, Engenharia ou Direito, acabam optando por matérias menos "brilhantes", como Biologia, Matemática, Letras ou História (apenas para citar alguns exemplos).
Há também muitos que entram num curso e o abandonam depois de algum tempo, porque se dão conta de que não têm a menor vocação para aquilo.
Conheci uma jovem inteligentíssima que completou o curso de Arquitetura com as melhores notas da sua turma. Logo depois de formada, prestou concurso para um cargo público que requeria o diploma de Arquitetura, e obteve sem esforço o primeiro lugar, sendo imediatamente nomeada. Mas, depois de algumas semanas de trabalho, desistiu de tudo. Descobriu que sua verdadeira vocação era outra... Ainda bem que desta vez acertou: fez nova faculdade, de Psicologia, e hoje é uma das melhores psicólogas infantis de São Paulo.
Pelo menos essa reencontrou seu caminho e deu certo na vida. Outros não têm essa felicidade.
Tive no Ginásio (ainda sou desses tempos pré-históricos...) um colega brilhante na área de Humanas. Inteligente, comunicativo, de palavra fácil, escrevia com facilidade, sabia argumentar vigorosamente para defender seus pontos de vista. Era o líder natural da turma. Teria dado um ótimo advogado, um excelente professor universitário, um brilhante jornalista ou político, talvez um genial corretor de imóveis... Mas preferiu fazer Engenharia, a carreira que na época era considerada a mais rendosa. Hoje, procuro em vão na Internet seu nome... Por onde andará ele? É triste, mas quando me lembro dele tenho muita pena: é uma pessoa que julgo ter falhado na sua vocação, andou por onde não devia ter andado.
Aliás, a meu ver uma das causas mais profundas da atual crise do ensino no Brasil é, sem dúvida, o grande número de professores de ensino fundamental e médio que lecionam sem vocação, resignados a uma situação que não desejaram, fazendo sem entusiasmo algo que não amam, transmitindo às novas gerações, de modo subconsciente, mensagens de frustração e mediocridade, ao invés de espelharem para seus alunos um modelo de realização humana plena como professores.
Fora da verdadeira vocação é muito difícil trabalhar com entusiasmo. E sem entusiasmo é muito difícil ter sucesso.
Por isso sempre recomendo aos alunos, nos cursos que dou: procurem a sua verdadeira vocação, procurem a área em que poderão exercitar a sua criatividade. Ainda que essa área seja pouco valorizada, é nela, e não em qualquer outra, que serão criativos e terão sucesso.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
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