Data de meados do século XVIII a invenção do motor a vapor, pelo escocês James Watt (1736-1819), mas somente em 1803 esse sistema foi aplicado com sucesso para mover embarcações. Deve-se ao norte-americano Robert Fulton (1765-1815) a invenção do primeiro barco a vapor, que navegou no rio Sena, na presença de cientistas membros do prestigioso “Institut de France”, os quais atestaram, assim, a paternidade e a veracidade do invento. Quatro anos depois, em 1807, o barco a vapor foi pela primeira vez utilizado comercialmente, pelo mesmo Fulton: seu barco Clermont inaugurou a primeira linha comercial regular de navegação a vapor, unindo as cidades de Nova York e Albany, pelo rio Hudson.
O sistema de Fulton, que foi usado durante muito tempo, consistia em mover, com a força do vapor, um conjunto de pás, dispostas numa roda, as quais giravam em torno de um eixo e, em contato com a água, propeliam a embarcação para adiante. O princípio de propulsão, em essência, não diferia muito dos antigos remos, apenas variando a força utilizada, que não mais era dos braços humanos, mas passava a ser a do vapor.
Fulton chegou a projetar um submarino e um navio de guerra. Seu sistema parecia muito prático, pois possibilitaria que os barcos se movessem por si mesmos, sem ficar na dependência dos ventos.
No entanto, não foi fácil a aceitação do novo sistema. Os maiores opositores da navegação a vapor foram os ingleses. Ao longo de boa parte do século XIX, conviveram e disputaram a supremacia dos mares os dois sistemas de navegação, o dos tradicionais veleiros, e o novo, dos vapores. Somente no final do século os vapores assumiriam a hegemonia dos mares, e os veleiros cada vez mais passariam a se tornar raros.
De início, foram as dificuldades decorrentes das limitações tecnológicas (e também logísticas) que dificultaram a adoção do vapor como meio de propulsão das Marinhas do mundo inteiro. Ainda eram precárias e pouco confiáveis as primeiras embarcações movidas a vapor. O reabastecimento delas não era fácil, pois não se dispunha de muitos locais adequados para tal, nos mares do mundo todo. O combustível pesava e ocupava espaço, diminuindo a capacidade de estocar água, mantimentos e munições, de modo que a autonomia das embarcações ficava diminuída. Parecia muito mais prático e confiável fazer o que sempre se fizera desde a Antiguidade, ou seja, confiar no vento, o mais barato, leve e eficiente dos “combustíveis”.
No caso da Inglaterra, havia ainda uma dificuldade de caráter político. A marinha britânica (tanto a de guerra, quanto a mercante) era a primeira do mundo, e sempre fora movida a velas. Era uma posição hegemônica, arduamente conquistada, desde o século XVI, era incontestada e parecia inabalável. Nem o grande Napoleão conseguira sequer ameaçá-la seriamente... Por que, então, comprometer essa tão segura posição de hegemonia mundial, em busca de uma mudança no sistema de propulsão, com resultados incertos? Do ponto de vista político, isso parecia uma loucura.
Foi só pouco a pouco que o novo sistema se impôs. Franceses e norte-americanos saíram à frente, obtendo melhoramentos técnicos que corrigiram as limitações dos primeiros vapores. Os ingleses não podiam ficar para trás. Pragmáticos e acima de tudo práticos, adaptaram-se. Conseguiram modificar seu poderio naval, e mantiveram nos mares sua supremacia, no espírito do hino “Rule, Britannia”.
Foi assim durante algumas gerações... até que os norte-americanos lhes passaram à dianteira!
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
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