PAZ - Blogue luso-brasileiro
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2015
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - INTERNET : O PERIGO DO EMBURRECIMENTO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No meu último artigo, comentei a utilização de tecnologias digitais no ensino, e o misto de otimismo e preocupação que isso desperta. Encontro agora, no jornal Valor Econômico/The Wall Street Journal, de 28/11/2014, um curioso e instigante artigo de Nicholas Carr, intitulado “A automação excessiva emburrece.”

Antes de mais nada, há que apresentar Nicholas Carr. É um escritor norte-americano muito respeitado, crítico da automação e da “internetização” da vida corporativa, social e educacional. Nasceu em 1959, estudou nas Universidades de Darmouth e Harvard, foi editor executivo da prestigiosa Harvard Business Review e é atualmente membro do Conselho Editorial da Enciclopédia Britânica. Seu livro “A geração superficial: o que a Internet está fazendo com os nossos cérebros?”, lançado em 2010, esteve na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos e foi indicado para o Prêmio Pulitzer, chegando a figurar entre os finalistas em 2011. Foi traduzido para 14 idiomas, inclusive o português. No Brasil, foi editado pela Agir em 2012, mas a edição rapidamente se esgotou e ainda não foi renovada.

Consegui encontrar um exemplar em Estante Virtual e já o encomendei. O tema é polêmico, de grande atualidade e interesse. Penso retornar a ele mais vezes, depois de lido e analisado o livro, mas desde já queria compartilhar com meus leitores, para conhecimento e reflexão deles, os tópicos principais do referido artigo publicado no The Wall Street Journal:

“A inteligência artificial chegou. Os computadores são hoje perspicazes e precisos. Deslumbrados com nossas máquinas, nós damos a elas todo tipo de tarefas sofisticadas que antes costumávamos fazer sozinhos. Nossa crescente dependência da automação e computadores, porém, pode ter um custo elevado. Evidências preocupantes sugerem que nossa inteligência está se retraindo à medida que nos tornamos mais dependentes da inteligência artificial. Em vez de nos elevar, parece que o software inteligente nos emburrece.”

Essa é a introdução do artigo. Em seguida, Carr mostra como, nas indústrias, à medida que a automação se foi intensificando, em meados do século passado, os empregados foram ficando cada vez menos ativos e mais passivos, cada vez mais adestrados a apertar botões que produzem efeitos imediatos e cada vez menos capazes de tomar decisões que, por atos explícitos de vontade, conduzissem a suas consequências. Em outras palavras, foram se automatizando, foram se transformando em robôs integrados à dinâmica e à estrutura dos mecanismos em que trabalhavam.

Mas isso não ficou apenas no campo da execução industrial. Os computadores foram se tornando mais sofisticados e eficientes, tomando conta de outros ramos de atividades:

“Os computadores estão assumindo tipos de trabalho intelectual considerados um privilégio de profissionais bem educados e treinados: pilotos dependem de computadores para operar um avião; médicos consultam computadores para diagnosticar doenças; arquitetos os usam para projetar prédios. A nova onda da automação está atingindo todo mundo. E evidências mostram que o mesmo efeito negativo que reduziu os talentos nas fábricas no século passado está começando a atingir as habilidades dos profissionais, mesmo os mais especializados. Os operadores de máquinas de ontem são os operadores de computadores de hoje. Veja o caso dos pilotos automáticos, inventados há um século para dar mais segurança e eficiência às viagens aéreas. Hoje, a quantidade de tarefas na cabine que foram transferidas para dispositivos computadorizados é tão grande, dizem especialistas, que os pilotos estão perdendo suas habilidades.”

Carr expõe, a seguir, diversas experiências feitas em vários campos de atuação, mostrando como, em geral, a automação e a hegemonia do conhecimento imposta pela Internet está perigosamente apoucando o intelecto humano. E conclui: “Se confiarmos demais na automação, vamos nos tornar menos capazes e mais subservientes às nossas máquinas. Vamos criar um mundo mais apropriado para robôs do que para nós.”

É curioso como esse método de emburrecimento, por meio da falta de exercício prático, é precisamente o que temia, há mais de dois milênios, o sábio Platão, quando se perguntava se a escrita era auxiliar ou a assassina da memória...

 

 

 

 

 

 ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:47
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links