Participei, semanas atrás, de um fórum muito interessante, composto por profissionais e/ou amadores de Letras. Foi uma troca de informações deveras útil, pois pessoas das mais variadas procedências e orientações, irmanadas pelo comum interesse por Literatura e edição de livros, puderam trocar figurinhas à vontade, num clima de respeito e colaboração gerais.
A certa altura dos debates, foi proposto aos presentes que dessem seus depoimentos sobre “um romance de subliteratura” que já tivessem lido.
Senti de início alguma dificuldade para emitir minha opinião, porque, em princípio, quando pego em mãos um livro classificável como subliteratura não perco tempo lendo. Abandono-o logo. Mas lembrei depois que, há cerca de dez anos, fui a Itu, para ser padrinho de casamento de um primo viúvo que se recasava. No hotel em que a família inteira ficou hospedada, minha irmã me passou um romance recém-publicado, escrito por uma pessoa que, unicamente pelos seus méritos artísticos e televisivos, se tinha transformado em campeão de vendas de um romance. Ao me passar, minha irmã comentou que ficara decepcionada, que melhor seria o tal artista nunca se ter aventurado a escrever. Levei o livro para o apartamento e, antes de dormir, fui até à página 50. Deixei-o enfastiado, sem vontade de prosseguir. Medíocre, cheio de lugares comuns, querendo chocar os leitores e, pelo choque, atraí-los. Poderia até passar para um iniciante imaturo nas letras, não porém para uma pessoa já idosa, com nome já merecidamente consagrado como artista. Justamente por respeitar esse nome, prefiro não o citar pessoalmente.
Há pessoas, e até verdadeiras personalidades, que nunca deveriam publicar livros. E há, também, grandes escritores que, de vez em quando, em horas menos felizes, produzem banalidades. Nem todo bom escritor mantém, sempre, o mesmo nível de suas produções. Algumas obras, melhor seria que jamais vissem a luz do dia.
Lembrei também, no fórum, minha decepção ao ler "Viagem à Inglaterra e à Escócia", do grande Júlio Verne. Esse autor fascinou minha distante adolescência, com suas geniais produções. Sou, por outro lado, igualmente fascinado pela Escócia, em especial pelas Highlands, pelos jacobitas, pelos clãs seculares, pela cultura céltica em geral, e pela escocesa em particular. Os romances históricos, ou de fundo histórico, de Walter Scott e de Robert Louis Stevenson, aclimatados na velha Escócia, nunca me canso de os reler. Quando soube da existência de um livro de Júlio Verne sobre a Escócia, encontrado recentemente e dado à luz quase 100 anos depois da morte de seu autor, quis logo lê-lo, esperando encontrar maravilhas. Foi uma decepção. Mero relato de viagem, sem maior interesse, sem conteúdo, sem descrições psicológicas de personagens, sem análise profunda de ambientes, sem nada que prestasse... pelo menos no meu juízo.
Fui ler, então, outro romance do mesmo Verne, também aclimatado na Escócia, intitulado “O raio verde”. Nova decepção...
Ressalvo que gosto é algo muito pessoal, muito subjetivo. Admito perfeitamente, portanto, que algum colega visse valores nos livros que classifiquei como subliteratura. Com maior dificuldade admitiria que considerassem subliteratura Eça, Machado ou Guimarães Rosa...
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
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