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Terça-feira, 19 de Julho de 2016
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - ESCLARECIMENTO NECESSÁRIO SOBRE COXINHAS

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gostaria de fazer aqui um esclarecimento sobre algo que escrevi acerca de coxinhas, algum tempo atrás. . Refiro-me ao tradicional quitute presente em todos os bares e lanchonetes do Brasil, nas comemorações de aniversário, nos coquetéis e em muitos outros atos sociais. Refiro-me àquele saboroso e simpático salgadinho frito, modelado em forma de coxa de frango, com massa cremosa feita de farinha, batata ou mandioca, e recheado com carne desfiada de frango. Antigamente, era costume se acrescentar um ossinho de galinha na ponta, para dar mais a ideia de membro empanado da penosa. Hoje, simplificou-se o ritual de preparo, abolindo-se o acréscimo.

Em artigo publicado nesta seção há alguns meses, comentei o lançamento da segunda edição de um livro intitulado “Sua Majestade Imperial D. Thereza Christina Maria de Bourbon e Bragança, a Mãe dos Brasileiros”, escrito pelo Prof. Rogério da Silva Tjader, de Valença-RJ.

Nesse livro, o ilustre autor, que leciona História no Ensino Superior de sua cidade e publicou numerosas obras de História e Ciência Política, narrou que certo dia, numa refeição íntima em que participava toda a Família Imperial, aconteceu que não sobrou nenhuma coxa de frango para um dos netos de D. Teresa Cristina e do Imperador D. Pedro II. O menino apreciava muito esse petisco e não escondeu sua tristeza por se ver privado dele.

Com pena, D. Teresa Cristina consolou o neto e disse que, para ele, providenciaria uma coxa de frango especial, muito melhor do que as outras. Levantou-se então da mesa, foi até à cozinha e, às pressas, improvisou um bolinho de massa, com recheio de carne de frango desfiado. Deu ao bolinho o formato de uma coxa, colocou um pedaço de osso para acentuar a semelhança com o membro do galináceo e mandou fritar. O menino comeu encantado e, a partir daí, todos os netos passaram a preferir essa coxinha especial, feita pelo carinho e pela inventividade da avó, às vulgares e normais coxas de frango... Muitas famílias da nobreza imitaram a receita, dali ela passou para o povo em geral e se espalhou por todo o Brasil.

No meu texto, depois de transcrever essa versão da origem das coxinhas, acrescentei “Si non è vero...”. Fiz esse acréscimo não por duvidar, é claro, da seriedade documental do Prof. Tjader em seus livros, mas porque imaginava que se tratasse mais de alguma tradição oral não documentada do que, propriamente, de uma referência segura. Inúmeras tradições orais, sempre com algum fundo de verdade, mas quase sempre com imprecisões e variantes, correm acerca de D. Pedro II e sua Família. Isso é, aliás, próprio de personalidades que, pelo seu alto significado histórico, passaram no imaginário popular para o campo da legenda.

O Prof. Tjader, entretanto, me esclareceu que esse episódio, incluído em seu livro, não provinha de uma vaga tradição oral, mas lhe fora transmitido por testemunha muito segura, se bem que indireta, do fato.

Quando adolescente, com seus 14 ou 15 anos de idade, o Prof. Tjader, que nasceu em 1931, conheceu muito bem D. Luiza Werneck de Castro, senhora que, na época, já tinha idade avançada. Conversava muito com ela, que lhe contava inúmeros episódios dos tempos antigos, os quais o jovem Rogério, já com vocação de futuro historiador, ouvia encantado e registrava na memória.

A mãe de D. Luiza tinha sido aia de D. Teresa Cristina, e prestava serviços à Imperatriz tanto no Paço de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, quanto no Palácio de Petrópolis, residência de verão da Família Imperial, privando muito com a Imperatriz e com ela conversando diariamente. Foi da própria soberana que ouviu essa versão, que transmitiu à filha e que esta, mais tarde, transmitiria ao jovem Rogério, que por sua vez, bem mais tarde, já como ilustre e celebrado historiador, transmitiria ao grande público.

Acaba de sair a terceira edição do livro, revista e bastante ampliada. Para esta edição, o Prof. Tjader me deu a honra de pedir um prefácio. Embora o soubesse absolutamente desnecessário, de bom grado acedi ao amável pedido.

Recomendo muito essa obra, que pode ser adquirida na Livraria Companhia do Livro, pelo site pelo www.ciadolivro.com.br ou pelo telefone 24-2452-4233.

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.



publicado por Luso-brasileiro às 12:02
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1 comentário:
De Roque E.de Campos a 19 de Julho de 2016 às 16:35
Cf CASCUDO, L. da C. (Org.) Antologia da alimentação no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977. 254 p. (Raízes do Brasil), a origem é brasileira, melhor paulista.
Segundo historiadores[5] [6] da alimentação, a coxinha foi desenvolvida durante a industrialização de São Paulo, para ser comercializada como um substituto mais barato e mais durável às tradicionais coxas de galinha que eram vendidas nas portas de fábricas.[7]

De São Paulo, a receita rapidamente se espalhou pelo restante do estado e logo do Brasil, já sendo popular no Rio de Janeiro e no Paraná na década de 1950.[8]


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