Foi com alegria que os sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro receberam, na última semana de janeiro, o desmentido do falecimento do nosso ilustre consócio Prof. José Murilo de Carvalho. Na verdade, quem morreu foi um quase homônimo seu, o diplomata José Murillo (com dois LL) de Carvalho.
Com a inteligência e o bom humor que lhe são característicos, o Prof. José Murilo (com um L só) dirigiu mensagem circular aos membros do tradicional Instituto, informando que tinha ressuscitado, ou melhor, esclarecendo que nem sequer tinha chegado a morrer. Não resisto à tentação de estender, aos leitores, a alegria que a todos nos contagiou, transcrevendo a mensagem circular, expedida pelo “ressuscitado” por meio da eficientíssima e muito estimada secretária da instituição, D. Tupiara Machareth:
“Uso os préstimos da Tupiara para agradecer as manifestações, por parte de colegas e amigos do IHGB, de preocupação com minha anunciada morte. Particularmente tocante foi a reação de nosso caro confrade o desembargador Antonio Izaías relatada por ele em bem-humorada carta a mim enviada. Ao ler o anúncio no Globo, engravatou-se e heroicamente enfrentou a sensação térmica de 50 graus para ir ao São Francisco Xavier prestar-me suas últimas homenagens. Lá, apresentou condolências aos parentes, mas disse ter estranhado o longo bigode branco do morto, que destoava da imagem do confrade do IHGB, fato que o deixou intrigado. A suspeita de um equívoco confirmou-se ao ser abraçado por um senhor de idade provecta que revelou ter sido colega do morto no Itamaraty. Fui salvo por um bigode branco. Para outros amigos, minha salvação veio da ausência de um L duplo no nome, isto é, veio da obediência ao acordo ortográfico que manda atualizar a grafia dos antropônimos. Reitero meus agradecimentos a todos e ao caro desembargador, em gratidão por seu gesto, libero desde já de comparecimento ao São João Batista quando chegar a vez do José Murilo de Carvalho sem bigode e sem L duplo. Um grande abraço, JM.”
Esse episódio me fez lembrar outro, muito famoso, ocorrido com o escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910). Quando, em 1897, foi noticiada erradamente sua morte, ele escreveu um artigo no qual esclareceu aos leitores que “a notícia da minha morte foi um pouco exagerada”.
Do sueco Alfred Nobel (1833-1896) também correu uma notícia falsa de morte. Os comentários acerca do “falecido” foram tão desfavoráveis e o deixaram tão desagradado que o inventor da dinamite resolveu fazer alguma coisa boa, no tempo que lhe restasse de vida, para ser lembrado pelos pósteros de modo menos crítico... E instituiu, com sua imensa fortuna, o Prêmio Nobel!
O poeta britânico Rudyard Kipling (1865-1936) leu, certa vez, numa revista, a notícia de sua morte. Imediatamente escreveu ao diretor: “Acabo de saber, por sua revista, que estou morto. Não se esqueça de excluir imediatamente meu nome da sua lista de assinantes”.
Recordo também um caso de humor negro, lido já não sei onde, de um Mr. Smith que, ao chegar ao hotel de veraneio, mandou um telegrama à esposa: “Querida, cheguei há pouco. O calor aqui é infernal. Já reservei seus aposentos. Fico à sua espera no próximo fim de semana”. Acontece que o telegrama foi entregue, por erro, a uma outra Mrs. Smith, cujo marido tinha morrido dois dias antes...
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
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