Em matéria artística, muito pouca coisa se cria, quase tudo se transforma ou, melhor, se imita. Se examinarmos com cuidado a extensa relação dos pintores, dos músicos, dos literatos, dos escultores, dos arquitetos, dos poetas e de todos aqueles que, num sentido muito amplo, podem ser designados como artistas, veremos que pouquíssimos foram realmente inovadores.
Quase todos imitaram. Ou imitaram fazendo pequenas alterações e adaptações ao que outros antes já tinham feito, ou imitaram ao inverso, mais ousadamente, rompendo com um estilo, mas fazendo exatamente o contrário daquele estilo – ou seja, tomando o estilo anterior como referência. Mesmo neste último caso, o estilo anterior foi o referencial, foi a partir dele que surgiu a obra nova.
É claro que há imitações de alto nível, como também há imitações medíocres, de baixo nível, oportunísticas. Em literatura, isso é fácil de constatar. O extraordinário sucesso dos sete livros de Harry Potter - que foram editados em 67 idiomas e venderam cerca de um bilhão de exemplares – ensejou um número enorme de imitadores que logo se apresentaram ao público. Com exceção de alguns poucos que demonstraram inegável talento e produziram obras de valor, todos os outros se revelaram campeões de mediocridade e produziram obras-primas de mesmice e sensaboria.
Sem memória não existe arte. Criar algo do nada é atributo divino, nenhum homem pode fazê-lo. É a partir de experiências e informações registradas pela memória que o talento dos artistas se aplica e executa as suas obras. Essa verdade já era reconhecida pelos gregos antigos, que na sua mitologia (profundamente impregnada, por sinal, de princípios filosóficos) viam as Musas, as deusas das Artes, como sendo filhas de Mnemósine, a deusa da Memória.
Eram nove as Musas: 1) Calíope, a musa da eloquência e da poesia épica, era considerada a inspiradora dos poetas; 2) Clio, a musa que celebrava e cantava a glória dos feitos militares, era também a musa da História; 3) a arte musical tinha como deusa Euterpe, que constava ser a inventora da flauta, do pífaro, dos instrumentos de sopro em geral; 4) Tália era a patrona da comédia; 5) Melpômene o era da tragédia, presidindo também ao canto e à harmonia vocal; 6) Erato, conhecida por sua amabilidade, era a responsável pela inspiração dos poetas líricos, cantadores dos sentimentos humanos; 7) Polímnia era a musa da oratória, protegendo também os retóricos, que utilizam a palavra para a exposição e a defesa de suas ideias; 8) Terpsícore regia a dança e também protegia os corais dramáticos; 9) e, por fim, Urânia, a última das musas, era a inspiradora dos estudos astronômicos, da matemática, das Ciências Exatas em geral.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS , é historiador e jornalista, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
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