No meu modo de entender, despertar o interesse do aluno de ensino fundamental pela leitura é algo que deve se aproximar, tanto quanto possível, do lúdico. O professor deve mostrar aos alunos que ler é sempre um jogo, uma brincadeira, um prazer maravilhoso. Ler proporciona “mergulhos” em outras realidades, oferece “viagens” a outros mundos imaginários, permite que exploremos à vontade outras “dimensões” da nossa existência. Ler, em última análise, é exercer de modo fascinante nossa liberdade individual, sem as limitações e os entraves da realidade que nos cerca.
O docente deve mostrar isso não só afirmando-o com clareza, mas também demonstrando na prática, em suas aulas, que isso é verdade - e nesse particular é que ele pode dar asas, ilimitadamente, a sua criatividade, pondo sua imaginação em funcionamento, a pleno vapor.
Uma coisa é muito importante: seja qual for o método de ensino que prefira utilizar, o professor deve sempre comunicar aos alunos, mais pelo seu modo de ser do que propriamente por palavras, seu ENTUSIASMO pessoal pela atividade da leitura. Ter entusiasmo, vale lembrar, etimologicamente significa ter Deus dentro de nós (en-Theos, no grego, significa Deus em, Deus dentro), ou seja, termos entusiasmo por algo significa sermos possuídos e animados por um Espírito interior que nos anima a respeito desse algo. Tal entusiasmo, tal paixão pela leitura deve transparecer na pessoa do docente e em seu modo de ser. É esse um ponto fundamental. Se não tiver esse entusiasmo, jamais conseguirá despertar, nos alunos, interesse pela leitura, e jamais será um professor no sentido pleno d termo, seja qual for a disciplina que lecione.
Tive, na graduação em História, algumas poucas aulas com um professor muito pouco preparado para o ensino superior, bastante limitado do ponto de vista historiográfico e com uma cultura histórica cheia de lacunas, mas que, apesar de tudo, reputo um grande professor. Por quê? Porque ele tinha verdadeiro entusiasmo pela disciplina que lecionava; seu entusiasmo era contagiante e motivava os alunos, apesar de estes, na sua quase totalidade, se darem muito bem conta das evidentes limitações do professor.
Assistir às aulas dele era sempre um prazer, apesar de tudo... E, sem deixar de reconhecer suas lacunas, não posso deixar de considerá-lo um grande professor.
Lembro que comentei algumas vezes com os colegas, e todos assentiram, que ele parecia um pouco deslocado no ensino de nível superior, mas inegavelmente era um excepcional professor de História de nível fundamental ou médio. Para alunos adolescentes, ainda sem o senso crítico próprio do ambiente universitário, ele era o professor ideal, pois conseguia comunicar, de modo fascinante, o seu entusiasmo pela História. Ele tornava prazeroso o “mergulho” no passado... Acredito que um professor desses pode, graças ao seu entusiasmo comunicativo e contagiante, ter uma missão muito importante, no sentido de despertar nos jovens vocações para futuros historiadores e professores de História.
Como, concretamente, desenvolver nos alunos o gosto pela leitura?
No meu modo de entender, o professor deve, em primeiro lugar, escolher muito bem os textos que manda seus alunos lerem, ou, melhor ainda, que lê junto com eles. Devem ser textos que tenham relação com a vida deles - porque, se não tiverem, dificilmente atrairão a atenção dos juveníssimos leitores - mas devem ter sempre algo de novidade, que represente uma atração e desperte um interesse. Inicialmente, textos curtos, facilmente compreensíveis e assimiláveis. Em seguida, textos mais extensos, gradativamente, até chegar aos livros.
A passagem dos textos curtos para os livros tem que ser bem preparada e tem que ser gradual, para não assustar os alunos.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
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