PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sexta-feira, 2 de Janeiro de 2015
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - NOS CAMINHOS DE SANTIAGO - 1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tive a alegria de reencontrar na Praça José Bonifácio meu grande amigo Esio Pezzato. Estava radiante, 10 quilos mais magro e 20 anos mais jovem. Perguntei que fada operara aquele manifesto milagre. Respondeu que estava chegando da Espanha, onde fizera, a pé, os 814 km do famoso Caminho de Santiago.

Recordei, então, a leitura de um livro fantástico, sobre essa histórica peregrinação. Tem como título “Priez pour nous à Compostelle” (Rezem por nós em Compostela), e como subtítulo “La vie des pélerins sur les Chemins de Saint-Jacques” (A vida dos peregrinos nos Caminhos de Santiago), figurando como autores Pierre Barret e Jean-Noël Gurgand, (Hachette, Paris, 1978, 348pp).

Os dois autores, que fizeram pessoalmente, a pé, o famoso Caminho, compilaram dez relatos de peregrinos de várias classes sociais e provenientes de vários pontos da Europa, que percorreram o mesmo Caminho entre os séculos XII e XVIII. A partir desses relatos (oito dos quais com autores perfeitamente identificados e dois outros, um inglês de 1380 e um florentino, de 1477, com autores anônimos), apresentaram um estudo minucioso das condições de vida dos peregrinos.

O livro é de leitura extremamente agradável e instrutiva, pois traça um quadro completo da vida real no dia-a-dia dos peregrinos. Transcreve também numerosas poesias e orações antigas, encontradas em antigos devocionários compostelanos. Está incluído no volume o relato circunstanciado, também no dia-a-dia, que cada um dos autores fez de sua peregrinação a Compostela. Isso constitui um complemento muito interessante dos relatos históricos de séculos anteriores.

A obra desde logo me pareceu de grande interesse e atualidade, tanto mais que assistimos, nos últimos anos, a uma sensível revalorização do Caminho de Santiago, atualmente uma das mais procuradas rotas turísticas de todo o mundo. Muitos caminhantes, aliás, não seguem essa rota por motivos religiosos ou de misticismo, mas apenas como esporte ou como superação de desafios. É frequente empresários ou executivos fazerem o Caminho no seu "ano sabático", para reavaliação das prioridades da vida num contexto de total afastamento das rotinas de trabalho diário.

São Tiago, ou, contraidamente Santiago, também pode ser designado como Tiago, Iago, Jacó, Jaime, James, Jacques, Jack, Jacobus. É o mesmo nome hebraico Ia'aqob, em formas diferentes, em vários idiomas. Significa “aquele que segura o calcanhar". O primeiro que o usou foi o patriarca Jacó, que era filho de Isaac e de Rebeca, e era irmão-gêmeo de Esaú. Segundo o Gênesis (25,25), quando nasceram os gêmeos, primeiro veio à luz Esaú, e logo em seguida, segurando com a mão o pezinho do outro, Jacó.

São Tiago, o Maior, foi um dos doze Apóstolos de Jesus Cristo, por Ele escolhidos como colunas vivas da sua Igreja. A designação “o Maior” é para diferenciá-lo de outro Apóstolo, São Tiago, o Menor. Os dois Tiagos, aliás, eram aparentados entre si, ambos eram primos de Jesus Cristo. São Tiago, o Maior, apóstolo da Península Ibérica, era irmão de São João Evangelista. Seu pai era Zebedeu e sua mãe era Maria Salomé, uma das mulheres que, de acordo com os Evangelhos, acompanhava Jesus Cristo e Lhe prestava assistência e serviços.

A família de São Tiago não parece ter sido pobre. Seu pai era pescador, como São Pedro, profissão que na época se revestia de respeitabilidade. Em termos modernos, poderíamos dizer que era um pequeno empresário da pesca. Sabemos pelos Evangelhos que tinha criados ao seu serviço.

São Tiago foi escolhido como discípulo do Senhor quando, depois de concluída uma pescaria, consertava as redes. Imediatamente ele e seu irmão João deixaram o pai, os criados e as redes na barca, passando a seguir a Jesus Cristo. São Tiago foi o primeiro dos doze Apóstolos a derramar o seu sangue, como Mártir, para dar testemunho de Jesus Cristo (Atos, 12,2). Foi decapitado pela espada, por ordem de Herodes Agripa, por volta do ano 42 d.C..

De acordo com uma tradição muito antiga e bem assentada, da qual faz eco, no século VII, Santo Isidoro de Sevilha (Patrística Latina, 83,151), quando ocorreu a dispersão dos Apóstolos pelo mundo, para cumprirem o mandado de Nosso Senhor "Ide e pregai a todas as nações", São Tiago se dirigiu à Península Ibérica, lá esteve algum tempo e, depois, retornou a Jerusalém, onde sofreu o martírio.

Ainda de acordo com relatos muito antigos, os quais dão base a uma tradição muito sólida, o corpo do primeiro Apóstolo martirizado foi levado de Jerusalém para o porto de Jafa, onde foi embarcado e conduzido por dois discípulos seus até Iria, no Norte da Península Ibérica. Os relatos antigos não esclarecem a razão dessa viagem. Terá, talvez, o Apóstolo determinado, antes de morrer, que seus restos mortais fossem levados para a terra na qual pregara o Evangelho?

Voltaremos ao assunto.

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS , é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.



publicado por Luso-brasileiro às 17:04
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Julho 2024

Maio 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links