Entre os Voluntários da Pátria da primeira hora, arregimentados para enfrentar o ataque proveniente do Paraguai, foram incorporados numerosos elementos da Guarda Nacional, força paramilitar constituída por civis, instituída em 1831 e convocável em caso de conflito, quando passaria a ser corpo auxiliar do Exército nacional. Também elementos da polícia e de outros corpos arregimentados auxiliares (equivalentes, em termos atuais, às nossas Polícias Militares) contribuíram efetivamente para a constituição dos corpos de Voluntários da Pátria.
Cada corpo de voluntários era composto, regulamentarmente, por oito companhias. O número de corpos de Voluntários se elevou a várias dezenas, em linhas gerais correspondendo às províncias do Império, mas havendo diversas províncias, mais populosas, que contavam com vários corpos de voluntários. Foram esses corpos que suportaram o maior rigor da guerra, nela perdendo muitos homens.
Ao final da guerra, os sobreviventes, reincorporados à vida civil, nem sempre obtiveram tudo quanto o Governo havia inicialmente prometido. Foram injustiçados. São beneméritos patriotas que contribuíram com seu suor e seu sangue para a vitória sobre o Paraguai. Escreveram páginas das mais belas do heroísmo nacional, merecendo figurar na História do Brasil em lugar de destaque, com honra muito especial. Todos os brasileiros dignos desse nome se orgulham deles.
Como disse no meu artigo anterior, a história dos Voluntários da Pátria se confunde com a própria história da Guerra da Tríplice Aliança. Não seria possível relatar, aqui, as atividades de todos os numerosos corpos de Voluntários. Vou me concentrar no caso dos Voluntários da Pátria de São Paulo, que constituíram, inicialmente, o 7º CVP. Embora mais tarde, com as reformulações, esse corpo tenha recebido reforços de outro CVP paulista, o 42º, e mais tarde do 45º CVP, foi “o Sétimo” que marcou a História de São Paulo e nela ficou para sempre consignado.
Na “Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo”, publicação mais que centenária da qual tenho a honra de ser, no momento presente, diretor e editor-responsável, encontra-se, no vol. XXII, referente ao ano de 1923, um estudo de 180 páginas, escrito pelo então Tenente-Coronel Pedro Dias de Campos, intitulado “O Espírito Militar Paulista”. É desse estudo que extraio as informações a seguir, sobre “o Sétimo”.
Logo no início de 1865, em atenção ao Decreto Imperial de 7 de janeiro daquele ano, foi constituída em São Paulo, com sede no Largo da Sé, uma “Associação Promotora de Voluntários da Pátria”, que rapidamente recrutou um grande contingente de soldados voluntários. Esta mesma associação também fardou, armou e transportou os voluntários que formaram o 7º Corpo de Voluntários da Pátria. Esse batalhão era composto de oito companhias, tendo cada uma um capitão, um tenente e dois alferes. Como comandante, o Tenente-Coronel Francisco Joaquim Pinto Pacca, major reformado do Exército.
A nominata dos oficiais do 7º CVP, integralmente reproduzida pelo autor do estudo publicado na “Revista do IHGSP”, permite facilmente identificar numerosos elementos das principais famílias do establishment paulista (inclusive de Piracicaba), o que demonstra como a rica e poderosa aristocracia cafeeira de São Paulo deu efetiva colaboração para a formação do 7º CVP.
Eram membros de famílias de posses, eram pessoas que não precisavam de promessas de recompensas financeiras ou em terras para acorrerem ao combate. Fizeram-no por verdadeiro patriotismo. Isso ocorreu no Brasil inteiro.
Contrariamente ao que diz o jornalista Júlio Chiavenato, os Voluntários da Pátria, tal como os conservou a grata memória coletiva brasileira, não foram “um mito”, mas foram uma realidade. Houve, sem dúvida, episódios tristes e dolorosos de “voluntários” forçados e de escravos aliciados: nem tudo foi luz no quadro, houve nele também sombras. Mas destruir a memória nacional como tentou forçadamente fazer Chiavenato no seu livro Os voluntários da pátria (e outros mitos) é um erro insustentável.
Registra Pedro Dias de Campos, no citado estudo “O Espírito Militar Paulista”: “Era o 7º um corpo luzido, formado com a flor da mocidade paulistana, estuante de brio, de entusiasmo patriota e de desejos de marchar para o teatro de luta, que se feria em toda vasta fronteira do Sul. Ansiavam os voluntários pela ordem de marcha, que aguardavam, havia já seis longos meses”. (continua)
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
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