O povoado de São Paulo teve início num modesto colégio da Companhia de Jesus, estabelecido em 1554 no altiplano, a cerca de 60 km. do mar, numa área conhecida como os Campos de Piratininga. Era um local estrategicamente bem escolhido, pois ficava no alto de uma colina, cercada por dois rios, o que lhe assegurava facilidades de defesa e abastecimento de água e de peixes. Ademais, a proximidade dos aldeamentos de índios amigos dos portugueses favorecia a escolha do local, assim como a proximidade da vila de Santo André da Borda do Campo, na qual vivia, com numerosos descendentes mamelucos, João Ramalho, genro e amigo do morubixaba Martim Afonso Tibiriçá. Por ali perto também passava o rio Anhembi, atual Tietê, via de entrada natural para o interior. Tudo isso fazia do local um ponto estratégico muito feliz.
Ali se estabeleceu o colégio, em torno do qual se constituiu um povoado que se tornou vila e foi, aos poucos, adquirindo importância, chegando a elevar-se à condição de cidade e diocese no século XVIII.
Segundo Auguste de Saint-Hilaire, na passagem do século XVI para o XVII, ou seja, em 1600, havia apenas 200 moradores em S. Paulo, e na passagem do século XVII para o XVIII havia apenas 700 (Quadro Histórico da Província de São Paulo, p. 159).
Em 1766, D. Luís Antonio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, que governava a recém-criada Capitania de São Paulo, ordenou que fosse feito um recenseamento da sua capitania, e registrou que ela era composta por uma cidade (a capital), 18 vilas (Sorocaba, Paranaguá, Santos, Guaratinguetá, Itu, Taubaté, Parnaíba, Atibaia, Jacareí e outras mais), 9 aldeias de índios e 38 freguesias, possuindo um total de 58.071 habitantes (apud Aureliano Leite, História da Civilização Paulista, p. 95).
No tocante à capital da Capitania, registrou textualmente o Morgado de Mateus: “Conta esta cidade atualmente segundo a lista que mandei tirar de 392 fogos, 649 homens e 867 mulheres, porém a sua freguesia que se estende a 12 léguas tem 899 fogos, em que se compreendem 1748 homens e 2900 mulheres, contando neste número os de maior e menor idade”.
Por essa altura havia, pois, apenas essa minúscula população, dispersa na área bastante extensa que hoje, grosso modo, constitui a chamada Grande São Paulo, que abrange o Município de São Paulo e numerosos outros ao seu redor, constituindo uma das maiores e mais povoadas regiões metropolitanas de todo o mundo.
Somente por volta de 1800 a freguesia terá atingido a cifra das 10 mil almas.
Foi essa urbe subpovoada que, paradoxalmente, forneceu os recursos humanos para o ciclo do bandeirismo e, mais tarde, para seu sucedâneo, o ciclo do tropeirismo.
O bandeirismo foi um fenômeno essencialmente paulista.
Houve, sem dúvida, algumas iniciativas esporádicas de entradas no sertão, a partir de outros pontos do Brasil, como a Bahia, Pernambuco, Maranhão, até mesmo do Amazonas, mas foram iniciativas episódicas e sem maior alcance. Bandeirismo sistemático, com amplitude, continuidade e importância nos resultados obtidos, só ocorreu a partir de São Paulo. Foi um esforço bem sucedido, que teve como efeito estender o território brasileiro muito além da linha de Tordesilhas.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
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