Certa noite, já passado das 22h, uma conhecida me mandou mensagem de whatsapp, pedindo uma orientação. Sabendo que eu tenho gatos e uma cachorra, queria saber se os gatinhos dela, ainda filhotes, se acostumariam a uma cachorra. Contou-me, com revolta, que a irmã se mudara de casa e lá no quintal, sozinha, havia deixado uma cachorrinha, uma pinscher, alegando que não poderia levar o animalzinho para o novo endereço, por exigência do proprietário.
Expliquei a ela como fazer para adaptar os animais e que eu a ajudaria com o que fosse preciso, como ração e outros. Após resgatar a cachorrinha e enviar-me um vídeos dela, notei que era muito pequena, quase parecendo um brinquedo. Acredito que deveria estar sem comer há algum tempo, porque comia como se não houvesse amanhã.
Fiquei indignada pensando em como alguém pode ter coragem de abandonar um animal à própria sorte, sobretudo um animal tão frágil. Fazem isso porque acreditam na impunidade e que os animais valem menos do que coisas. Se não fosse pelo auxílio da minha amiga que teve disposição de ir à noite buscar o animal, mesmo diante de suas dificuldades econômicas pelas quais ela passa, por certo a cachorrinha estaria morta.
Passadas algumas semanas minha amiga me ligou novamente. Precisava arrumar um lugar para o animal. Com filhos pequenos, um marido desempregado e morando de aluguel, ela não teria condições de propiciar os cuidados como vacina e castração. Combinei com uma vizinha tão maluca como eu por animais e em uma segunda-feira, vinda de táxi, a cachorrinha chegou. Quando a vi pessoalmente fiquei extremamente surpresa, pois era a menor cachorra que eu já tinha visto na minha vida.
Minúscula seria a definição exata. Meus gatos parecem gigantes perto dela. Eu sequer sabia que um cachorro poderia ser daquele tamanho. No mínimo ela é peculiar, pois fica parte do tempo com a língua de fora, saindo pelo lado da boca. Valente, não tem a menor noção dos seus 1,7 kg! Nas poucas horas nas quais ficou em casa, andou para todo lado, entre os gatos e minha cachorra que, curiosamente, pareciam não ter ideia do que era aquele bicho. Minha vizinha irá ficar com ela até que a adotante que arrumamos possa vir busca-la em novembro, pois mora em outra cidade, um pouco distante. Enquanto isso estamos dividindo os gastos, cuidando de um animal que foi negligenciado por muito tempo e que, pela sua fragilidade, sobreviveu por milagre.
Rebatizada como Minie e apelidada de Pulguinha, ela se parece com um brinquedo movido à pilha, correndo de um lado para outro como se sempre estivesse estado ali na casa da minha vizinha e com os três cachorros dela. Em verdade é muito bom vê-la bem alimentada, saudável e bem cuidada. Pena termos sempre menos braços, dinheiro e espaço do que seria necessário para cuidar de outros animais negligenciados.
Ao menos, por aqui, nesse momento, a menor de todas as cachorras está pronta para ser feliz!
CINTHYA NUNES - é escritora, professora universitária e advogada – cinthyanvs@gmail.com
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