Em dias de quarentena a maioria das pessoas está atolada de serviços domésticos. De repente urge passar um pano para tirar o pó que se acumula sobre os móveis e faz todo mundo espirar. Espirros, aliás, nesses tempos virais, são piores do que soltar pum em público. Todo mundo te olha com um misto de pavor e reprovação. É o famoso “espalha rodinha”. Se bem que nem a rodinha de conversa é permita atualmente.
Enfim, entre as mil tarefas do lar, as quais consomem grande parte do dia de muitas pessoas, sobretudo dos novos donos e donas de casa, uma opção de lazer acessível e segura é assistir televisão. Tenho evitado um pouco os noticiários, pegando um único resumo ao final do dia, mas depois que termino minhas obrigações diárias, sigo navegando pelos canais em busca de algo que possa me desligar nas inevitáveis preocupações, quase sempre indo parar no NETFLIX.
Para quem não conhece, o NETFLIX é um serviço que, mediante pagamento de assinatura mensal, permite o acesso a uma plataforma repleta de filmes e séries, muitos deles originais e exclusivos. Minha preferência tem sido para as séries e tenho me surpreendido positivamente com o conteúdo de várias. Séries tem o mérito de permitir nossa permanência por mais tempo nas estórias que elas retratam. Temos tempo de nos ambientarmos no local onde os fatos se passam, bem como conhecer melhor os personagens, trazendo-nos uma sensação de familiaridade e creio que isso seja o que nos faz continuar acompanhando o desenrolar da trama.
Encontrei duas de humor das quais gostei bastante. Ambas tratam de pessoas com mais de setenta anos, mostrando, de modo jocoso e inteligente, que a vida pode ser divertida e produtiva em qualquer idade. Grace and Frankie é estrelada por duas atrizes veteranas e as várias temporadas são diversão garantida. O Método Kominsky, protagonizado por Michael Douglas, trata de questões como envelhecimento, doença e morte, com um humor fino e ácido. Ambas provocam reflexões necessárias, trocando lágrimas por risadas.
Gosto muito de temas policiais e descobri que há muita coisa boa com essa temática, para além do cinema americano e do glamour de Hollywood. Assisti Bordertown, Deadwind e Trapped recentemente e gostei bastante das três, sobretudo porque as duas primeiras são ambientadas na Finlândia e a última na Islândia, países sobre os quais eu quase nada sabia. Com tramas bem construídas, permitem ainda um tour pelos frios países e seus costumes. Paisagens de congelar a alma, mas que despertaram em mim o desejo de, quem sabe um dia, se o vírus permitir, conhecer pessoalmente tais lugares.
Um ponto que chamou a minha atenção foi que nessas produções os personagens são representados por pessoas mais “normais”, sem cabelos super produzidos, maquiagem complexa às seis da manhã ou corpos esculturais. E penso que andamos precisando do menos em substituição ao mais, não só nesse mas em vários outros quesitos da vida. A qualidade das imagens, das cenas e do roteiro, ainda, em nada deixam a desejar, seja qual for o ponto de comparação.
Esses são apenas alguns exemplos recentes, mas já perdi as contas de quantas séries assisti nessa quarentena. E elas existem para todos os gostos e idades, havendo infantis, adolescentes, de humor, terror, suspense, comédia, etc. Por óbvio que assistir a séries não nos irá tirar a dor de ver tanta coisa ruim acontecendo ao nosso redor, mas pode aliviar um pouco o estresse de não poder trabalhar, de não poder abraçar parentes e amigos. Se não podemos fugir em corpo, que nossos olhos e pensamentos possam ao menos nos distanciar momentaneamente do caos.
CINTHIA NUNES - é jornalista, advogada, professora universitária e está maratonando séries para prosseguir viajando – cinthyanvs@gmail.com
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