Dias das Mães se aproximando e, assim como a maior parte dos brasileiros, minhas irmãs e eu estamos longe de nossa mãe há quase dois meses e, pelo caminhar da carroça, sem perspectiva de quando isso será possível, eis que, morando todos em cidades diferentes, estamos respeitando o isolamento social.
Esse, sem dúvida, será um Dia das Mães atípico. E não apenas porque muitas mães estarão distantes dos filhos, nem porque não serão possíveis grandes almoços em família, mas pelo fato de que muitos estão lamentando perdas nesse momento. Filhos que perderam suas mães e mães que se despediram precocemente de seus filhos. Sequer com direito às despedidas tradicionais, já que o vírus retira nesse momento até mesmo o direito à dor do luto.
De outro lado, com o comércio fechado, somente filhos mais tecnológicos e com algum dinheiro é que conseguem enviar, a distância, algum mimo para suas genitoras. Para todos os demais, resta o conforto de sabermos que estamos ao alcance de uma ligação. Não há (e nem nunca houve, na verdade) bem mais importante do que a saúde. Se o vírus nos pudesse deixar um bilhete, por certo conteria uma mensagem nos instruindo a aproveitar a vida, a agradecer cada dia de livres e profundas inspirações e expirações.
Minha mãe, não tenho dúvida, já recebeu seu presente desse ano na graça de comemorar uma filha que, tendo contraído o vírus, recuperou-se bem e voltou ao trabalho pela saúde das outras pessoas. Sei bem que para ela só isso importa, que estejamos bem. Não há bem material que possa substituir essa paz, mas, ainda assim, gostaríamos que fosse possível estarmos sentados ao redor da mesa, comendo, rindo e desfrutando de um dia comum.
O momento, infelizmente, é outro. O mundo inteiro está passando por privações em níveis variados. É tempo de adaptação, de resiliência, de fé e coragem. Sendo uma era digital, temos ao menos algumas facilidades, mecanismos que não existiam em circunstâncias parecidas, como nos dias da Gripe Espanhola. A internet e a telefonia, nessas horas, são um alento, permitindo não apenas que possamos falar com nossos entes queridos, mas que possamos vê-los também.
Minha família, que já se falava todos os dias ao telefone, antes de tudo isso, agora está realmente dependente desse meio de comunicação. Criamos uma rotina e, diariamente, ao menos duas vezes, reunidos virtualmente, dividindo uma tela de telefone em quatro partes, tentamos rir do que é possível, matando saudades dos nossos rostos, encarregando a memória de preencher as lacunas do que não consegue se projetar a distância.
Vivemos à espera de dias melhores, do retorno das coisas simples e essenciais como abraços apertados. Pelo dia de mães ao lado de seus filhos e de filhos sem temor pelas suas mães, sem receio de que saiam de casa para um simples passeio. Manhãs de padarias abertas, nas quais seja possível sentar para degustar um bom e demorado café após pegar o jornal na Banca da esquina e apertar as mãos dos amigos.
Um dia isso vai passar. Até lá desejo um Dia das Mães de boas notícias, juntos ou a distancia. Que possamos encontrar alento nas vozes de quem amamos, enquanto aguardamos na antessala dos reencontros. Por ora, órfãos da presença, somos todos filhos da esperança.
CINTHYA NUNES - é jornalista, advogada e está com muitas saudades de sua mãe – cinthyanvs@gmail.com
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