Lembro-me como se fosse hoje. Estávamos eu e minha irmã Ivy aguardando as notícias, ansiosas em nossos seis anos e meio e quatro e meio, respectivamente. Eis que meu pai chega com um sorriso no rosto e nos anuncia: É menina! Batemos palmas para o fato de que dali em diante seríamos em três irmãs. Deslumbradas, saímos pela vizinhança gritando a boa nova a plenos pulmões. Nascia ali a tríade que até hoje é a nossa força, a nossa união e o resultado do amor de nossos pais.
Muito tempo se passou desde então, ainda que possa nos parecer poucos segundos atrás. A cena agora é outra. Estou ao lado do telefone, ansiosa pela mensagem que aguardo há algumas horas. Ligo para meus pais e divido a emoção com minha irmã Ivy. Estamos todos esperando por esse momento. Dessa vez já sabemos que é uma menina quem está para chegar. O parto, programado para as 19h do dia 15 do mês de julho. É a Olivia quem estamos aguardando, a filhinha caçula da minha irmã mais nova, Tricya.
Agora não somos mais crianças, mas nossos corações ainda o são. Da mesma forma como esperávamos pelo instante de ter nossa irmãzinha no colo, ansiamos pela chegada da nossa sobrinha, filha dela. Confiro o celular a cada dois segundos. Meu Deus, será que está tudo bem? Faço mil coisas para distrair minha mente e eis que recebo uma foto. Com o rostinho vermelho, broto da vida, contemplo aquela que há alguns meses era somente uma esperança. Meu coração se enche de afeto. Amor à primeira vista...
Não foram poucas as vezes nas quais lamentei a passagem do tempo. Quando o fiz, no entanto, não foi por conta dos efeitos do tempo sobre mim, mas pelas ausências que tempo traz. Entretanto, também sou grata ao tempo pelas muitas e maravilhosas pessoas que só pude conhecer porque ele passou. Assim me sinto em relação aos meus sobrinhos, que são como os filhos que não tive. Olivia é mais um desses presentes que decorrem da benção do girar dos ponteiros.
Cada vez que uma criança escolhe nossa família para nascer, somos agraciados por mais uma leva de gracinhas, de sorrisos que por certo virão. Tudo se renova. Aumentamos em número, em qualidade e em felicidade. Mais uma página do livro do futuro que se abre, pronto para receber as lembranças de uma nova vida.
Não me cabe predizer como será a existência dela, como aliás não é permitido a ninguém nesse mundo. Posso, porém, desejar que ela tenha uma vida plena, que seja uma pessoa de bom coração e que possa estar sempre segura de que tem uma família que a ama e que a protegerá de tudo que for humanamente possível.
Há poucas horas eu a conheci pessoalmente. Senti aquele cheiro que só aos bebês é dado ter. Se eu tivesse que adivinhar qual o aroma que a vida tem, eu arriscaria dizer que cheira a bebês limpinhos. Olhei seus pezinhos e mãozinhas, tão frágeis, tão pequenas e tão poderosas. É a força da existência que se renova a cada nascimento. Não sei traduzir em palavras o que senti ao ver na minha sobrinha a imagem da minha irmã, como se as duas fossem o mesmo bebê, como se eu tivesse outra vez seis anos, como se toda a vida estivesse idêntica aos nossos pés.
CINTHYA NUNES - é jornalista, advogada e professora universitária – cinthyanvs@gmail.com
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