Creio que já devo ter escrito quase uma dezena de textos sobre meus gatos e, lamento informar, muito provavelmente este não será o último. É que a coisa toda que envolve os gatos é um mistério. Em um dia você não tem gato nenhum e no outro já tem cinco. O fato é que somente quem vive com gatos sabe a que me refiro. Desconfio que os gatos sejam hipnotistas e que dominam nossa mente inferior com simples balançar de seus bigodes.
Eu caí nesse golpe felino meio que por acaso. Ou talvez não. Sei lá. Há sete anos eu ofereci lar temporário para um filhote encontrado vagando em um bairro de São Paulo, mas foi um caso de amor (ou dominação?) e a Chica inaugurou a dinastia dos gatos da minha vida.
Agora mesmo, neste momento em que, em frente ao meu computador, eu pensava sobre o que escrever, ela apareceu para se esfregar em minhas mãos, claramente me instruindo a mudar a temática inicialmente escolhida. Como realmente estava pouco inspirada, achei melhor aceitar a sugestão.
A Chica é uma gata sem raça definida, preta e branca, vulgo frajola. Tem o pelo médio, meio arrepiado como se estivesse com estática ao redor. Ligeiramente vesga, é uma caçadora exímia, tendo no currículo alguns morcegos, um rato, uma maritaca e outros pequenos pássaros. Para sorte das vítimas, no entanto, não é uma assassina e quase todos se salvaram no fim. Quase. Que Deus os tenha, amém.
É uma gatinha dócil, que gosta de ficar no meu colo em determinadas horas do dia, quando dorme aconchegada, muitas vezes de olhos abertos, o que é um pouco assustador. Depois de julgá-la morta, assustada, ri de nervoso ao descobrir sobre esse esquisito hábito.
A despeito de ser mansa, não é sociável com pessoas estranhas e raramente aparece para as visitas. Ao menor ruído estranho, desaparece dentro de casa, quase se camuflando nos locais mais improváveis. Certa vez fomos resgatá-la no telhado da vizinha, depois de ter escapulido após escalar, por dentro, a chaminé da churrasqueira.
O curioso é que a Chica, descobrimos, é uma exibicionista. Não sei a razão, mas todas as vezes nas quais faço uma chamada de vídeo, ela aparece e fica se esfregando em mim, na frente das câmeras. Choraminga, passa a patinha no meu rosto, desfila e faz pose para a câmera. Nas minhas aulas tele presenciais, sobretudo nas quais sou a professora, ela é presença constante e já conhecida dos alunos. É um pouco constrangedor quando ela fica de costas para câmera e coloca suas partes íntimas diretamente em foco, mas espero que ela apenas ruim de enquadramento.
Um tantinho magricela, é uma gatinha gulosa e que logo cedo se coloca em frente ao seu pote de comida, em posição de sentinela. Se por acaso demoramos um pouco para servir Vossa Majestade, ela desata a miar e, se isso não funciona, fica nos seguindo pela casa, choramingando. Que não se ouse, contudo, servir-lhe algo de que ela não goste, porque nesse caso simplesmente cheira, nos olha com uma expressão de piedade e recomeça o chororô.
O ponto mais importante é que a Chica é diplomática. Gosta de todos os outros gatos da casa e nunca arrumou confusão com a ala canina, nem com as atuais e nem com os já falecidos. Nunca tentou mexer nos aquários, tampouco se aproximou das calopsitas. Creio que ela não seja é boba, isso sim. Sabe que o mundo é dos adaptáveis e que em terra de cachorro, gato é rei. Neste caso, rainha, Chica Maria Eustáquica Borges I e única, dona do meu coração e tantos textos meus.
CINTHYA NUNES, é jornalista, advogada, professora universitária e é uma escrava da máfia felina, com muito gosto – cinthyanvs@gmail.com/ www.escriturices.com.br
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