Tenho estado bem confusa ultimamente com os rumos de várias coisas. Sempre estive ciente de que não compreendo vários fatos desse mundo e creio que isso seja normal, quase uma condição daqueles que deitem olhos atentos à existência. Isso tem se aplicado a quase todos os pontos de minha vida e nem conseguiria escrever sobre isso nesse singelo espaço.
Um dos pontos, por exemplo, diz respeito à forma como passei a enxergar a existência das árvores e de tudo o que significam no contexto no qual estão inseridas. Ainda que sempre eu as tenha admirado, meu respeito por esses seres vivos só faz aumentar. Sei que pode parecer muito estranho ou até pitoresco para muitos, mas minha relação com as árvores é de fato muito particular.
Por onde passo gosto de examinar suas formas variadas, suas cores, suas flores e seus frutos. Sejam pequenas, medianas, gigantes ou majestosas, cada uma delas é quase um universo. Cada árvore representa o sucesso e a persistência das folhas e raízes. São a vitória de uma semente. Algumas fornecem alimento, abrigo e lar a pássaros. As flores de outras tantas servem néctar a beija-flores, morcegos e abelhas. Mesmo em cidades como São Paulo, em determinados bairros, são até refúgios para macaquinhos e pequenos roedores.
Infelizmente, o meio ambiente nem de longe é respeitado como deveria. Não apenas as matas e florestas vem sendo devastadas impunemente, sob os argumentos mais sórdidos, mas até mesmo as árvores em meio urbano correm riscos constantes. Com raízes aprisionadas no concreto, muitas cedem após chuvas ou ventos mais fortes. Sem contar aquelas que são cortadas apenas porque suas folhas e flores “sujam” as calçadas de gente ignorante e fútil.
Muitos terrenos nos quais ainda há várias árvores frondosas, com dezenas de anos, com copas imensas, vem sendo adquiridos pelas construtoras para que arranha-céus sejam levantados. Fico pensando, em paralelo, como, em meio à crise, há tanto dinheiro para isso e se há tanta gente comprando imóveis assim. Seja como for, a primeira providência que as construtoras tomam é derrubar todas as árvores existentes no local. Nada, absolutamente nada é feito para garantir ou preservar a vida que nelas há, própria ou agregada.
Quando passo por espaços nos quais há anúncio de futuras obras, olho com profunda tristeza e impotência as árvores que ainda se encontram no local. Silenciosas e inertes, nada podem fazer a não ser aguardar o destino ao qual o bicho homem as condena. Acredito que se fosse feito algum estudo nesse sentido seria identificada uma perda considerável de verde nas cidades, até mesmo porque praticamente nada se replanta, à exceção de plantas ornamentais de pequeno porte.
Se às árvores fossem dadas pernas, se lhe fosse dado correr de tudo que as viole e condene, por certo estaríamos cercados apenas por concreto. Antes de cortarmos uma só árvore que seja, deveríamos no mínimo observar se nela há ninhos, se é possível evitar essa perda ou mesmo o replante, já que não uma nova semente ou mudinha não se transformarão em outra árvore do dia para noite.
A cada dia novas descobertas são feitas sobre a vida em todas as suas formas e acredito que haverá o momento no qual o ser humano conhecerá por completo as árvores e poderá se arrepender de tamanho descaso e violência. Só me resta torcer para que não seja tarde demais. Alguns países já se atentaram para esse fato e implantaram políticas voltadas a minimizar esses estragos. Pena não ser o caso do Brasil e da maior parte dos brasileiros. Nessa terra, hoje, mal temos palmeiras e pouco já canta o sabiá...
CINTHYA NUNES - é jornalista e advogada - cinthyanvs@gmail.com
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