Essa semana que se passou eu me lembrei muito dessa música, lá dos meus idos de adolescência, da banda Legião Urbana. Fui convidada para uma festa na rua da minha casa. Há alguns anos uma dupla de rapazes instalou sua produtora de filmes na última casa da pequena rua de um único quarteirão em que vivo em São Paulo.
Fazer amizade com os dois foi a coisa mais fácil desse mundo, eis que além de serem pessoas muito do bem, ainda são divertidos e excelente vizinhos. Esse ano estavam comemorando oito anos da produtora que tem em sociedade e convidaram a vizinhança para festa que fariam. O figurino sugerido era anos 80, com o exagero característico da época. Para prestigiá-los aceitei o convite e fiquei pensando no que iria vestir.
Convidei duas vizinhas para me acompanhar, até para não ficar sozinha e como os respectivos maridos não estavam disponíveis na data, seria conveniente estarmos as três juntas em uma festa na qual só conhecíamos duas pessoas e que, segundo eu imaginei, teria uma faixa etária orbitando em 10 anos a menos, no mínimo, do que todas nós.
Tudo combinado, não falamos sobre o figurino previamente, somente que iríamos à caráter. Como eu de fato já existia nos anos 80, ao contrário, muito provavelmente, dos demais convidados da festa de um modo geral, tentei lembrar do cabelo que usava e das roupas. Ajeitei um figurino colorido e um cabelo mais revolto, parecido com algo que eu usaria à época.
Na hora marcada eu toquei a campainha das minhas vizinhas e fui surpreendida ao perceber que talvez nenhuma de nós entendera a proposta da festa. Eu estava de anos 80, uma estava vestida de um personagem dos anos 80, mais precisamente a viúva Porcina (só os mais velhos se lembrarão, rs) e a outra, que entendeu ser uma festa à fantasia, estava de odalisca. Juntas, éramos, no mínimo, um trio estranho. A vantagem de se ter mais de 40 anos, no entanto, é que a essa altura não se liga muito para o que os outros acham. Assim, lá fomos nós, muito mais pela preguiça de trocar de roupa...
Quando entramos na festa eu simplesmente fiquei dividida entre voltar para casa fingindo uma urgência ou me enfiar em algum buraco e sumir. Ninguém estava vestido como sugeria o convite!! Confesso também que isso me surpreendeu, eis que uma festa de publicitários jovens seria um lugar mais natural para visuais extravagantes e arrojados. Quando vi um dos anfitriões vestido com um blazer prateado, relaxei um pouco, mas não deixei de me sentir um peixe fora do aquário.
A festa estava ótima, diga-se de passagem. Lugar lindo, delicado, atual e que faz você pensar na delícia que deve ser trabalhar lá. O som era ótimo e a escolha das músicas era atemporal. A bebida era composta por chope e drinks incríveis. Tudo de muito bom gosto. Só não tinha fantasia, rs. As pessoas, quase todas em torno dos 30 anos, um pouco para mais, um pouco para menos, dançavam alegres, como se faz entre amigos e companheiros.
Ficamos as três por ali, olhando tudo, cada uma pensando sei lá o que, mas eu só dava conta de pensar: Por que raios bem dessa vez fiz questão de seguir o que estava no convite? Aliás, o que estava no convite mesmo? Certa hora olhei para o lado e notei dois rapazes olhando para nós, com ar curioso e foi aí que me lembrei da música que dá título a esse texto. Comecei a rir sozinha, porque a festa não era estranha, mas que tinha gente esquisita, isso tinha!
E assim, quando o esquisito é você, quando você já fez o social e até ensaiou dançar um pouco, o melhor é sair de fininho, à francesa. Foi o que fizemos. Ou melhor, o que tentamos. Encontramos os nossos amigos na porta, um deles vestido de com asas de anjo.
_ Mas vocês já vão embora?? Por quê???
_Ah, tá tudo ótimo ( e estava mesmo!!), mas eu não “tô” legal...
Ainda bem que não perguntaram o que eu tinha, pois eu não hesitaria em responder que estava só sofrendo de “ridiculice” mesmo...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada,professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e escritora. São Paulo
OS MEUS LINKS