Embora o significado de biscoitar seja incomodar, ousarei construir um novo, mais adequado e menos inoportuno, que é o ato de fazer biscoitos. É fato que nunca uma pessoa especialmente habilidosa na cozinha. Minhas primeiras investidas em “comidas de verdade” resultaram em berinjelas assadas que eram tudo menos assadas, arroz empapado, feijão duro e outras “iguarias” do mesmo patamar.
Quando criança, contudo, aprendi a fazer um doce de coco e, como era fácil e ficou bom, passei longas temporadas empanturrando todo mundo a quem eu podia oferecer um docinho, gostasse a pessoa de coco ou não. Da mesma forma, quando mocinha, eu desenvolvi uma especial habilidade para fazer pão, talvez até uma herança genética, por conta de ter um avô que era padeiro. Fosse como fosse, na faculdade, assei tantos pães quantos pude distribuir e não me cansava de admirá-los enquanto cresciam, ganhavam cor e aromatizavam toda a cozinha.
O tempo passou e eu não me tornei uma cozinheira exemplar, mas hoje consigo fazer uma refeição saborosa, ainda que simples. Gosto dos rituais da cozinha, embora não aqueles diários, mas aqueles nos quais o ato de cozinhar é mais um ato de amor, de delicadeza, de arte, do que a obrigatoriedade de preparar algo para se comer. Gosto de presentar com comida, até porque isso me lembra costumes de meu tempo de infância, como o de receber um pratinho da vizinha com alguma guloseima, por exemplo...
Desse modo, assim que pude, fiz um curso rápido de biscoitos. A partir de uma receita padrão, segui incorporando sabores, essências, formas, cores e acabei transformando “biscoitar” em minha particular conjugação de me divertir. O lúdico sempre me encantou, diga-se de passagem, e criar biscoitos em forma de estrelas, corações, coelhos, ursinhos e afins, tornou a coisa toda bem especial.
Ajudou, ainda, o fato dos biscoitos ficarem bem gostosos, pois a receita que aprendi é boa. Saí distribuindo pacotinhos para amigos, vizinhos e, sobretudo para meus pais, sogra, irmãs e sobrinhos e a melhor recompensa que tenho é ouvir os pequenos pedirem aos pais “biscoitos da tia Cinthya”, devorando-os, tão logo os recebem, com carinhas de quem come algo especial.
“Biscoitar” tem me transformado em uma cozinha de primeira, ainda que para uma plateia de pequenos, mas a melhor plateia que eu poderia ter. Sigo “biscoitando” com alegria de quem prepara um mimo, um abraço, uma lembrança daquelas para se ter para toda vida...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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