PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 26 de Outubro de 2015
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - PEQUENAS CRIATURAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cinthya Nunes Vieira da Silva.jpg

 

         

 

 

 

 

 

 

 

   Às vezes, aqui em São Paulo, penso que não existem mais sapos e outras criaturinhas.  Nascida no interior do estado, cresci acostumada ao convívio com anfíbios, pequenos répteis e uma imensa gama de insetos. Infelizmente, ao contrário do que algumas pessoas acreditam, essa fauna pequenina é essencial para manutenção do equilíbrio ecológico e a ausência deles nos meios urbanos não é bom sinal...

            Lembro-me de que era comum que sapos aparecessem em volta das casas e embora desde sempre tenha existido pessoas más ou ignorantes, em geral os sapos e rãs não eram alvo costumeiro da ação humana. As lagartixas, por sua vez, também costumavam e ainda costumam passar ilesas, correndo pelas paredes das casas como se fossem jacarés em miniatura, caçadoras vorazes de aranhas, moscas, pernilongos e outros insetos. Mesmo elas, contudo, não tenho visto na mesma frequência ou quantidade de alguns bons anos atrás.

            As cobras, ao contrário, permanecem como vítimas do desconhecimento humanos e uma vez avistadas, são vistas como ameaças e, não raras vezes, mortas de modo cruel e totalmente desnecessário. Por certo que muitas cobras são perigosas, sobretudo pelo veneno capaz de matar em poucos minutos. O fato é que nem todas as cobras são venenosas ou perigosas para os seres humanos e, alimentando-se de pequenos roedores, também possuem importante papel na cadeia alimentar e na saúde da natureza.

            Quando se fala da proteção aos animais, ordinariamente pensamos em cães e gatos, mas para além deles há ainda a necessária proteção para os animais nos quais quase ninguém presta atenção e que são responsáveis pelo controle de pragas que acabam vitimando os próprios seres humanos, entre outras coisas. E ainda que não fosse pelo bem que podem garantir à humanidade, há que se levar em conta que a grande parte deles morre por conta da pura, simples e lamentável falta de informação das pessoas.

            Entre a ignorância e a falta de piedade pelas demais formas de vida, os seres humanos seguem destruindo vidas de criaturas incapazes de lhes fazer mal. Esquecidos de que fomos nós que invadimos seus habitats, agimos como se fossem apenas meros estornos ou acessórios dos quais é possível se desfazer sem qualquer espécie de juízo de valor ou ponderação.

            Muitas vezes eu me pego pensando em como esse mundo em que vivemos está cada vez mais populoso e cada vez menos habitável. Derrubamos florestas, secamos, poluímos e canalizamos rios. Expulsamos a vida que se manifesta nas pequenas criaturas e culpamos políticos e “os outros” por todas as nossas mazelas, sequer nos dando conta de que temos parte importante no desastroso destino que temos preparado para natureza.

            Nas noites da cidade grande não há mais o coaxar dos sapos dentro da noite que chega, tampouco temos brejos e rios nos quais as rãs possam se refugiar. Acredito, piamente, que um dia, a prosseguirmos como estamos, sentiremos saudades do tempo no qual os animais e os seres humanos dividiam espaços com um mínimo de respeito mútuo e no qual era possível ter esperança de não sermos as próximas vítimas de nossa própria ganância e indiferença...

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:17
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Julho 2024

Maio 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links