Às vezes, aqui em São Paulo, penso que não existem mais sapos e outras criaturinhas. Nascida no interior do estado, cresci acostumada ao convívio com anfíbios, pequenos répteis e uma imensa gama de insetos. Infelizmente, ao contrário do que algumas pessoas acreditam, essa fauna pequenina é essencial para manutenção do equilíbrio ecológico e a ausência deles nos meios urbanos não é bom sinal...
Lembro-me de que era comum que sapos aparecessem em volta das casas e embora desde sempre tenha existido pessoas más ou ignorantes, em geral os sapos e rãs não eram alvo costumeiro da ação humana. As lagartixas, por sua vez, também costumavam e ainda costumam passar ilesas, correndo pelas paredes das casas como se fossem jacarés em miniatura, caçadoras vorazes de aranhas, moscas, pernilongos e outros insetos. Mesmo elas, contudo, não tenho visto na mesma frequência ou quantidade de alguns bons anos atrás.
As cobras, ao contrário, permanecem como vítimas do desconhecimento humanos e uma vez avistadas, são vistas como ameaças e, não raras vezes, mortas de modo cruel e totalmente desnecessário. Por certo que muitas cobras são perigosas, sobretudo pelo veneno capaz de matar em poucos minutos. O fato é que nem todas as cobras são venenosas ou perigosas para os seres humanos e, alimentando-se de pequenos roedores, também possuem importante papel na cadeia alimentar e na saúde da natureza.
Quando se fala da proteção aos animais, ordinariamente pensamos em cães e gatos, mas para além deles há ainda a necessária proteção para os animais nos quais quase ninguém presta atenção e que são responsáveis pelo controle de pragas que acabam vitimando os próprios seres humanos, entre outras coisas. E ainda que não fosse pelo bem que podem garantir à humanidade, há que se levar em conta que a grande parte deles morre por conta da pura, simples e lamentável falta de informação das pessoas.
Entre a ignorância e a falta de piedade pelas demais formas de vida, os seres humanos seguem destruindo vidas de criaturas incapazes de lhes fazer mal. Esquecidos de que fomos nós que invadimos seus habitats, agimos como se fossem apenas meros estornos ou acessórios dos quais é possível se desfazer sem qualquer espécie de juízo de valor ou ponderação.
Muitas vezes eu me pego pensando em como esse mundo em que vivemos está cada vez mais populoso e cada vez menos habitável. Derrubamos florestas, secamos, poluímos e canalizamos rios. Expulsamos a vida que se manifesta nas pequenas criaturas e culpamos políticos e “os outros” por todas as nossas mazelas, sequer nos dando conta de que temos parte importante no desastroso destino que temos preparado para natureza.
Nas noites da cidade grande não há mais o coaxar dos sapos dentro da noite que chega, tampouco temos brejos e rios nos quais as rãs possam se refugiar. Acredito, piamente, que um dia, a prosseguirmos como estamos, sentiremos saudades do tempo no qual os animais e os seres humanos dividiam espaços com um mínimo de respeito mútuo e no qual era possível ter esperança de não sermos as próximas vítimas de nossa própria ganância e indiferença...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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