Não me canso de afirmar que, quando eu penso que já vi muita coisa, descubro que não vi desse mundo quase coisa nenhuma. Infelizmente, incluo na lista da minha ignorância, uma série de possibilidades no quesito maldade humana. Uma noticia que li nos últimos dias causou-me uma série de sentimentos ruins, sobretudo a indignação e, por essa razão, compartilho aqui nesse espaço.
Segundo uma notícia que li em fontes diversas, um restaurante situado na orla da cidade de Florianópolis, especializado em camarões e outros frutos do mar, foi autuado pela vigilância sanitária pelo fato dos fiscais terem encontrado, entre os produtos que seriam servidos aos clientes, duas carcaças de gambá, estando os dois animais já devidamente temperados.
Quando li a matéria, tive o cuidado de tentar verificar se procedia a informação, até porque é algo muito sério a ser imputado a um estabelecimento comercial, capaz de levar não só ao seu fechamento, mas também à execração pública. Vivemos em uma época na qual as pessoas são exímias críticas e, paradoxalmente, frágeis e indignadas vítimas. Sinceramente, não me agrada engrossar o rol dos imprudentes "atiradores de pedra". Se não for verdadeira, ao menos foi divulgado em vários sites de notícias...
Causou-me espanto e indignação não apenas o fato de servirem carne de um animal da fauna silvestre, protegido por lei, mas também porque foram encontrados outros dois animais, ainda vivos, presos dentro de um freezer desligado, sem água ou comida, provavelmente para que morressem e fossem servidos aos clientes! Eu me pergunto se o restaurante servia carne de gambá a pessoas que queriam provar "carnes exóticas" ou se, deliberadamente, enganava quem sequer imaginava o que o cardápio incluía.
De acordo com o veiculado na mídia, o dono do restaurante também caçava gatos para servi-los aos clientes e, antes dessa autuação tornada pública, já o fora oito anteriores vezes. Não sei como essas coisas ocorrem em outros países, mas não sei no mundo todo, um local que já foi fiscalizado tantas vezes permanece aberto, colocando em risco a saúde dos consumidores e desobecendo um imenso número de normas jurídicas.
Eu fico ainda pensando também o que leva alguém a matar animais que pouca ou nenhuma carne tem e a manter outros em condições cruéis de sobrevivência... Nessas horas eu perco a esperança de que um dia, de fato, sejamos uma raça capaz de atingir algum grau de evolução. Ao meu sentir, somos tão primitivos que, na ânsia de satisfazer nossos desejos, nossas ganas, ignoramos a vida e a dignidade dos demais seres vivos, repletos da tola certeza de que esse mundo existe tão apenas para nos servir...
Não vou entrar, nesse texto, no mérito do vegetarianismo, pois não sou qualificada a tanto, mas toda vida merece respeito, essencialmente aquela que serve de alimento a outra e impingir sofrimento não deveria parecer uma faculdade, uma escolha simples como a opção de um prato no cardápio.
Fica ainda a sensação de que, em alguns casos, comer fora é uma loteria meio macabra e que ficamos à mercê da responsabilidade e sanidade alheias. Por outro lado, fatos como esses diminuem a credibilidade de estabelecimentos sérios, idôneos, que sofrem respingos da desonestidade de outros.
Eu espero, sinceramente, que se tudo de fato for verdade, o estabelecimento seja fechado para nunca mais abrir e embora eu saiba e imagine que outros tantos, capazes de atos piores, estejam abertos e funcionando pelo Brasil e pelo mundo afora, que o bons possam prevalecer sobre os maus. Algumas coisas, na humanidade, há tempos, não cheiram bem r os pobres gambás nada tem a ver com isso...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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